O Fantasma do Rei Leopoldo. Uma história de voracidade, terror e heroísmo na África colonial Um texto brilhante, este notável estudo que Hochschild intitulou O Fantasma do Rei Leopoldo. | ||||||||
Género(s): Não-ficção/ Estudos Africanos/ História Acabamento: brochado Dimensão: 14,5x21 cm Páginas: 488 Peso: 592 g | Colecção: «Estudos Africanos», n.º 5 Código: 86.005 ISBN: 972-21-1457-3 1.ª edição: Fevereiro 2002 Preço: 24,90 € | |||||||
Índice de conteúdos IntroduçãoPrólogo: «Os negociantes estão a raptar a nossa gente» Primeira parte: Ao encontro do fogo 1. «Não desistirei da busca» 2. A raposa atravessa o arroio 3. O bolo magnífico 4. «Os tratados têm de garantir-nos tudo» 5. Da Florida a Berlim 6. Sob a bandeira do Yacht Club 7. O primeiro herege 8. Onde os Dez Mandamentos não existem 9. Conhecer o Sr. Kurtz 10. A madeira que chora 11. Uma sociedade secreta de assassinos Segunda parte: Um rei acossado 12. David e Golias 13. Penetrando na cozinha dos ladrões 14. Inundar de luz os seus feitos 15. Uma estimativa 16. «Os jornalistas não passam recibo» 17. Nenhum homem é estrangeiro 18. Vitória? 19. O grande esquecimento Bibliografia Fontes publicadas Jornais e periódicos Fontes inéditas e de arquivo Agradecimentos Fontes das fotografias Índice analítico |
O Globo | 25/5/2002 |
O horror maravilhoso de Conrad ao dissecar as trevas do delirante Kurtz
Wilson Coutinho
Todo o grande romance de Balzac tem algum personagem com dívidas no banco. Os de Joseph Conrad, escritor britânico, nascido na Polônia, são diferentes: têm sempre uma dívida moral difícil de pagar. Em Lord Jim, de 1900, o herói sente-se culpado por não ter salvado de um naufrágio um grupo de peregrinos malaios. No final, luta por gente como aquela, que julgou ter deixado morrer. Balzac adorava sofrimentos vindos de promissórias. Conrad ama, ao contrário, aquelas que são cobradas na alma. Em Coração das Trevas, novela publicada em 1902, o romancista inventou um fabuloso personagem, Kurtz, que perde o que tinha de melhor de si nas selvas do Congo Belga.
Um clássico da narrativa, uma conversa a bordo
É um clássico da narrativa, uma conversa fiada a bordo de um iate de passeio, ancorada no Tâmisa, conduzida por Marlow, um oficial da marinha mercante, aposentado de uma companhia que explorava marfim na África.
É Marlow, em seu velho e enferrujado vapor, que vai resgatar, no coração da selva, o delirante Kurtz, que subjugou, como um deus, os nativos da região, onde era representante comercial da firma exploradora de presas de elefantes. “O horror! O horror!” — são essas as palavras tornadas clássicas, que Kurtz grita, ao som de um suspiro, moribundo, em sua aldeia, rodeada de estacas com crânios de africanos assassinados.
A expressão terrível motivou um dos maiores poemas do século XX, “Terra devastada”, de T.S.Eliot, e a novela inspirou o filme "Apocalipse now", de Francis Ford Coppola, que localizou a ação destrutiva na guerra do Vietnã. Há outro filme, do espanhol Manuel Aragon, ambientado na Guerra Civil Espanhola.
Conrad é muito cinematográfico. Antes de filmar “Cidadão Kane”, Orson Welles queria fazer “Coração das trevas”. Chegou a posar com a maquete do barco em que Marlow viaja pelo rio Congo em busca de Kurtz. Recentemente, Martin Scorsese batalha para levar ao cinema Nostromo, outra obra-prima do romancista. Há muita visualidade em suas histórias. O clarão de um inglês vestido com um terno de flanela branca, parado num cais, pode detonar sua narrativa. Na novela “Tufão”, a turbulência parece entrar pelos olhos como uma pintura de tempestade de Turner. Sua prosa, porém, é quase uma arte de tricô, trabalhada com árdua construção, talvez porque Conrad seja um dos raros escritores que se tornaram mestres no inglês, apesar desta não ser sua língua natal.
As aventuras escritas pelo romancista se baseiam muito na experiência de 16 anos, nos quais trabalhou na marinha mercante. Aparentemente, seus personagens podem parecer excêntricos demais. O mundo vitoriano, contudo, lançou em cada pedaço do planeta gente ambiciosa, anarquistas com bombas, charlatões na América do Sul, malandros e cafajestes de todos os tipos. Kurtz é um modelo da época: padece de ambição e idealismo. Tem uma noiva em Londres. Quer glória e dinheiro a todo custo. É um intelectual, além de pintor, que a selva e a brutalidade da exploração humana tornaram um demente cruel. É possível que a era vitoriana tenha recheado o mundo com uma fórmula inquietante: Shakespeare e pistolas.
Ao ler o manuscrito de Kurtz sobre a supressão dos costumes selvagens, Marlow nota no rodapé, escrito de forma trêmula, a frase: “Exterminem todos os brutos”. Nunca o desejo de dominação foi tão enfático. Marlow entende, porém, como Kurtz se arruinou. Quando vai visitar a sua noiva, levando os pertences deixados pelo morto, não pode falar do que foi a verdadeira vida do enlouquecido aventureiro. Quer deixar numa alcova vitoriana a possibilidade do triunfo do amor, mesmo sendo ele uma mentira.
Embora um fascinante personagem de ficção, Kurtz foi alvo de outra busca: quem foi ele, já que, talvez, não tenha saído todo inteiro da cabeça de Conrad? Na função de oficial, em 1890, pilotando o barco “Roi des belges”, o futuro escritor subiu o rio Congo. A bordo, havia um francês chamado Klein — o primeiro nome do personagem, transformado depois em Kurtz. Em 1997, a revista “New Yorker” publicou um artigo, “Mr.Kurtz, I presume”, assinado pelo jornalista e historiador Adam Hochschild, autor de uma ótima biografia sobre Leopoldo II, proprietário privado do Congo, governando com mão de ferro e o administrando sem o menor escrúpulo. A pesquisa de Hochschild foi a de saber em quem o escritor inspirou-se para criar o personagem. Talvez foi uma mistura de vários aventureiros que o romancista encontrou em suas andanças na África. O mais provável pode ter sido o belga, Léon Rom, um sanguinário oficial da Força Pública, colecionador de 21 crânios, que, como Kurtz, caçava borboletas e era artista, tendo pintado retratos e paisagens. Rom também escreveu um arrogante livro, “Le négre du Congo”, vociferando contra a raça negra.
Brutalidade anuncia a Alemanha nazista
É claro que a narrativa de Conrad, que conduz o leitor ao mais fundo do abismo humano, é obra do seu gênio. Mas a mistura de intelectualidade e brutalidade, foi quase um anúncio do que aconteceria na Alemanha nazista. Lá, tiraram Shakespeare da estante. Abafaram, porém, o desesperado grito dos judeus, ao som de Mozart. “Coração das trevas”, uma das maiores novelas sobre o imperialismo branco na África, não tem a menor complacência por qualquer cultura que se arvora superiora. O Mal é, simplesmente, isto: radical. Triste é que o Bem seja tão excessivamente moderado.
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Editora Nova Alexandria Ltda. |
Apocalypse Now
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Sinopse
Em plena Guerra do Vietnã, um alto comando do exército estadunidense designa o capitão Willard para matar o coronel Kurtz no interior da selva do Camboja.
Subindo o rio num barco de patrulha, e escoltado por quatro soldados, Willard passa por vários cenários enquanto examina os documentos a respeito do coronel. Ao chegar ao seu destino, percebe que os nativos adoram Kurtz como a um deus, e terá de decidir se cumpre ou não a sua missão.
Referência bibliográfica
O filme é baseado na obra Heart of Darkness, de Joseph Conrad. Nesse livro, o alter-ego de Conrad, Marlow, curioso das terras inexploradas ou quase-inexploradas da África, resolve empregar-se numa companhia belga de extração de marfim. Uma vez no Congo, decepciona-se com o tratamento desumano dispensado aos nativos pelos colonizadores, e com o estado de abandono da colônia. É designado, então, para acompanhar o grupo que partirá em busca de Kurtz, um homem cheio de ideais humanitários, dotado de excepcionais qualidades intelectuais e artísticas, que há meses não manda notícias de si (nem do marfim). Tanto no filme quanto no livro, Kurtz parece ser o retrato da falência do humanitarismo sob interesses ambiciosos e egoístas.
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