sábado, 9 de fevereiro de 2008

Beato Salazar (5) - O Diabo de Santa Comba Dão


* Carlos Alberto Coutinho Rego

Ao Portugal Club,

Solicito a gentileza de retirar meu correio eletrônico do mail deste site. A propósito do título da mensagem abaixo, o pedantismo impera nas mensagens postadas neste site.

Grande parte dos textos expressam a "viuvez chorosa do Salazarismo".

Outros, exprimem suas vaidades e veleidades pseudo-intelectuais de gente com aspirações literárias, que vivem postando textos, como se fossem obras e assuntos relevantes.

O MAIOR FACÍNORA PORTUGUES DE SEMPRE - O INFAME DE SANTA COMBA DÃO - o criminoso A. de Oliveira Salazar, que ao contrario do que alguns falaram aqui: sua memória não merece respeito algum. Pelo visto ,ainda tem adeptos e simpatizantes assumidos e outros não assumidos. Alguns até tentam escamotear essa simpatia, mas, não conseguem.

Um desses, fez até cobrança de números, dados e outras coisas dos tempo em que a Escumalha Fascista governava Portugal. Ou esse parvo é muito burro ou não ouviu, leu e se informou desses tempos. O mais provavel é que faça parte dessa escumalha.

Por isso , reitero enfaticamente a retirada do meu correio eletronico deste site. Não quero receber em minha caixa postal textos que me causam nôjo e vômitos.

Sem mais, Carlos Alberto Coutinho Rego

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Aqui, para governar, um safanão a tempo é quanto basta

Extracto de uma biografia de António de Oliveira Salazar (1889-1970). O pensamento de Salazar é colocado aqui na primeira pessoa pela ficção de Fernando Correia da Silva.
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«....Os grandes homens, os predestinados, os grandes chefes, não se embaraçam com preconceitos, com fórmulas, com preocupações de moral política. A violência pode ter vantagens mas não na nossa raça nem nos nossos hábitos. Em Portugal não há homens sistematicamente violentos. Aqui, há que governar tendo sempre em conta esse sentimentalismo doentio a que chamamos bondade. Para defender a Pátria, aqui não é preciso usar da violência. Um safanão a tempo é quanto basta.
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Nas revistas e nos jornais e nas emissoras radiofónicas e nos teatros e nos cinemas, o lápis azul e a tesoura da Censura prévia cortam os textos e as imagens fora de prumo, há regras a cumprir, safanão a tempo. Nas livrarias, a polícia apreende os livros subversivos, há regras a cumprir, safanão a tempo.
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Se abandonados à liberdade, os homens logo se convertem em libertinos. Reforço a proibição das greves e em 1933 fundo a PIDE - Polícia de Vigilância e Defesa do Estado. Agentes italianos e depois uns alemães, com as suas técnicas, virão ajudar-nos a torná-la mais eficaz. Rapidamente a PIDE estende uma rede de informadores de norte a sul da Nação, nas cidades, nas vilas e até em aldeias. É fácil, muita gente ambiciona ganhar mais uns tostões.
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A função primeira da PIDE é prevenir as tentações de libertinagem, é intimidar não só os ímpios e os incautos à beira da impiedade, mas também os respectivos pais, e cônjuge, e filhos, e irmãos, e colegas, e amigos, todos os que estejam em perigo de contágio. Subversão é peste, há que meter a Nação em quarentena. E meto, mas alguns escapam, danados que tentam danar os outros, cães raivosos. Reorganizo as forças militarizadas, a GNR - Guarda Nacional Republicana, a PSP - Polícia de Segurança Pública, e a Guarda Fiscal. E chamo ao meu gabinete, primeiro o Agostinho Lourenço, director da PIDE; mais tarde o Silva Pais, director da PIDE. Alerto: - Mais vale um safanão a tempo do que deixar o Diabo à solta no meio do povo.
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Contam-me como fazem. Localizam onde pousa um dos suspeitos. A meio da noite arrombam a porta, dão-lhe voz de prisão e uns sopapos, arrastam-no para a sede, interrogatório, safanão primeiro. Se o subversivo conta o que sabe, é porque já está a caminho da salvação. Se não fala, safanão segundo, espancamento. Se calado continua, safanão terceiro, é a penitência da estátua, dias e noites obrigado a ficar sempre de pé, até que as suas pernas se transformem em dois trambolhos. Variante do terceiro safanão é a penitência do sono, dias e noites sem dormir; quando cabeceia, logo acendem um holofote contra os seus olhos. Um dos possessos, ao fim de quinze dias e quinze noites sem dormir, começou a beijar a parede, alucinações, pensava que estava na cama com a mulher. Depois entrou em coma. Normalmente, depois do terceiro safanão, os inconfessos entram em coma. Ninguém os mata, eles é que se deixam morrer porque se negam à salvação.

Alguns sobrevivem ao terceiro safanão, mas nada mais podemos fazer por eles, almas penadas já são em vida. Com ou sem julgamento são despejados em masmorras. Em 1936 inauguro as colónias penais do Tarrafal e de Peniche. É no Tarrafal que vai morrer Bento Gonçalves, secretário do Partido Comunista. Outros seguem-lhe o exemplo; no Tarrafal e em Peniche, no Aljube e em Caxias.

Não, não é preciso usar da violência, somos um povo de brandos costumes. Aqui, para governar, um safanão a tempo é quanto basta....»
"Casa de Brigadeiro"

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.Campo da Morte Lenta.

Dia 23 de Abril, data da criação oficial do tenebroso Campo de Concentração do Tarrafal (Campo da Morte Lenta 1936).

Quem foi Faria Borda

João Faria Borda, natural de Alcobaça, filho de um camponês, nasceu a 18 de Novembro de 1912.
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Em 1932, então com 20 anos de idade, assentou praça na Armada, onde desenvolveu diversa actividade política.
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Como dirigente da ORA – Organização dos Revolucionários da Armada – participou, juntamente com outros anti-fascistas, na revolta dos navios de guerra «Bartolomeu Dias», «Afonso de Albuquerque» e «Dão», em Setembro de 1936, naquela que ficou conhecida como «A Revolta dos Marinheiro».
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Em consequência dessa participação, depois de julgado em tribunal militar especial para crimes de natureza política e porque no tribunal assumiu a responsabilidade pela acção revolucionária praticada, foi condenado a vinte anos de prisão.
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Esteve uns dias na Penitenciária e foi, de seguida, enviado para o Tarrafal (tinha 23 anos), onde chegou a 29 de Outubro de 1936, com outros presos, entre eles nomes como Bento Gonçalves, secretário do Partido Comunista, Mário Castelhano, anarquista, Alfredo Caldeira, do Comité Central do PCP, e tantos outros.
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Faria Borda permaneceu dezasseis anos e três meses no campo de concentração. Depois de ter passado ainda mais um ano na cadeia de Peniche foi restituído à liberdade. Tinha então 41 anos de idade! Voltou ainda a ser preso em 1959/60 por actividade cooperativa.

Palavras de João Faria Borda, em 1978.

«Falar do Tarrafal ou de outras prisões fascistas não deve ser uma simples evocação daquilo que por lá passámos. Ao falar do Tarrafal e das outras prisões importa, em primeiro lugar, saber que elas existiram porque existiu o fascismo. Elas são uma consequência directa do regime de terror que durante 48 anos massacrou o nosso povo e colocou o nosso país na cauda das nações civilizadas.»
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«Eu e todos os ex-presos do Tarrafal sentimos profunda indignação quando deparamos com a data gloriosa do 25 de Abril a sofrer os maiores insultos.»
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«O Tarrafal é uma prisão política que temos de pôr ao lado de Aljube, Peniche, Caxias, Angra do Heroísmo. Não foram só os presos do Tarrafal que sofreram mas sim milhares de antifascistas vítimas das prisões por onde passaram. Mas o Tarrafal tinha um aspecto mais duro e violento: o isolamento. Os presos estavam meses e meses sem receber correspondência. Devido a ter participado numa tentativa de fuga colectiva em 2 de Agosto de 1937, a qual falhou por razões imprevisíveis, fui castigado em seis meses sem correspondência. A minha mãe morreu em Julho mas só vim a sabê-lo em Novembro, passados portanto mais de quatro meses.»
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«Todos os directores do Tarrafal, embora com características diferentes, tinham algo em comum: todos eram carcereiros e agentes do fascismo. Conheciam as técnicas nazis e usavam-nas. João da Silva usava uma técnica frequentemente: fazer promessas junto dos presos menos preparados, enquanto paralelamente redobrava a violência junto dos mais firmes. Todos os directores do Tarrafal procuraram reduzir, com mais ou menos intensidade consoante a situação política nacional e internacional, a capacidade de luta dos presos. Nenhum deles estava interessado em que estes fossem restituídos à liberdade. Todos pretendiam a aniquilação física e política dos homens que torturavam. Mas não o conseguiram.»
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«O campo de concentração era um rectângulo (cerca de 250m por 180) situado num dos sítios mais insalubres do arquipélago de Cabo Verde. Como alojamento existiam umas barracas de lona onde eram metidos cerca de 12 presos em cada uma.
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As casas de banho não existiam. Havia apenas uns sanitários – toscos muros de tijolo com uns buracos no chão e umas latas de gasolina para as necessidades.
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Como cozinha existia um telheiro com uns muros por onde a poeira entrava aos montes. Dois indígenas faziam a comida. A alimentação era péssima – havia ocasiões em que era necessário pôr bolas de algodão no nariz pois o cheiro da comida impedia que ela entrasse no estômago.
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Não havia água potável. Só existia água num poço a cerca de oitocentos metros do campo, água salobra que os presos transportavam em latas de gasolina. Mesmo assim era má e em pequena quantidade, não chegando para a higiene. Tomava-se banho com um único litro de água despejada de uma lata onde eram feitos uns buracos para o efeito.»

«O primeiro director do Tarrafal foi Manuel Martins dos Reis, capitão gatuno e paranóico, vindo da Fortaleza de Angra do Heroísmo. Este director “entretinha-se” a roubar as coisas que os familiares dos presos, com sacrifício, mandavam, desculpando-se que tudo aquilo era enviado pelo Socorro da Marinha Internacional. Chegou mesmo a montar uma pseudo cantina onde vendia as coisas roubadas.
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Mal desembarcámos começámos imediatamente a trabalhar.
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Transportávamos pedras, sob vigilância constante dos guardas. Em Cabo Verde, região de clima variável, calhou chover bastante nesses anos. A lona das barracas apodreceu de tal maneira que lá dentro chovia como na rua e de manhã acordávamos com a cara negra da poeira que se pegava à humidade que sobre nós caía.
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As águas acumuladas formavam pântanos onde se desenvolviam mosquitos transmissores do paludismo. A saúde de todos nós, presos, arruinava-se.
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Caíamos atacados da doença chamada biliose. Sem fornecimento de medicamentos e com um médico que era um patife da pior espécie, em poucos dias morreram sete camaradas. Em cerca de uma média de 200 presos era vulgar, em certas alturas, apenas dez andarem a pé.»
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«Os escândalos da actuação do primeiro director levaram à demissão deste. Foi substituído por João da Silva, acompanhado pelo fascista Seixas.
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Estávamos em 1938/39. A guerra civil espanhola terminava com a vitória do fascismo. O ditador português Salazar tinha contribuído, apoiando com o envio de géneros alimentícios e de homens, os quais ficaram conhecidos pelos Viriatos. Hitler tinha subido ao poder em 1933. Na Itália existia Mussolini. A situação no campo do Tarrafal, reflexo da situação política internacional caracterizada pela ascensão do fascismo, agrava-se terrivelmente.
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João da Silva dizia frequentemente: “Quem está aqui é para morrer!” Com este director começou a funcionar sistematicamente a célebre tortura conhecida por “frigideira”. Todos os dias eram para lá atirados presos e eu também por lá passei algumas vezes.»

«A “frigideira” era um paralelepípedo dividido ao meio, com proporções para conter dois homens. Mas, em caso de grandes castigos, chegavam a meter lá dez.
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Como respiradouros existia apenas uma fresta em cima e cinco buraquinhos do tamanho da ponta de um dedo na porta de ferros. Aquecendo extraordinariamente durante as horas do calor, a “frigideira» arrefecia bruscamente com a cacimba, à noite.
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Descalços e apenas com o fato de caqui, os presos suavam abundantemente durante o dia e tremiam de frio durante a noite. A alimentação, nessas alturas de castigo, piorava: em dias alternados os presos comiam pão e água ou um caldo quente onde só raramente bailavam alguns grãos de arroz.
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Quando os presos saíam, enfraquecidos, da “frigideira” eram atirados para o trabalho mais violento. Entre esses ficou célebre o trabalho a que o fascista Seixas apelidou de ”brigada brava”, pois excedia em muito a própria violência do trabalho normal. Não era permitido beber água ou urinar senão com autorização dos guardas. A “brigada brava” começou com dezenas de presos mas terminou apenas com dois: eu e António Guerra da greve da Marinha Grande, em 18 de Janeiro de 34.
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Para mim este trabalho era um choque não só físico como mental, de tal modo que não conseguia dormir durante a noite, obcecado com a ideia de que no outro dia tinha de voltar ao mesmo. Quando, negros e encharcados, regressávamos ao campo, os restantes camaradas, solidários, ajudávam-nos em tudo o que o regulamento permitia: lavavam-nos a roupa, guardavam para nós a melhor comida e animavam-nos moralmente.»

A mais brutal expressão da violência repressiva da ditadura, naquela época, foi a abertura do Campo de Concentração do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde, a milhares de quilómetros de Portugal.
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O campo do Tarrafal, foi inaugurado em Outubro de 1936. Foi inspirado nos campos de concentração nazis, que Hitler nessa altura começava a montar na Alemanha e depois estendeu, como campos de extermínio, por todos os países ocupados pelo exército nazi.
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No Tarrafal não havia câmaras de gás, como nos campos de concentração nazis, mas os presos eram submetidos a um regime de morte lenta - por isso ficou conhecido como o «Campo da Morte Lenta».
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No cemitério do Tarrafal ficaram os corpos de 32 dos prisioneiros que ali morreram vítimas dos maus tratos sofridos. Só depois do 25 de Abril de 1974, foi possível trazer de regresso os seus corpos para terra portuguesa.


Presos políticos mortos no Tarrafal

FRANCISCO JOSÉ PEREIRA - MORREU EM 20.09.1937
PEDRO DE MATOS FILIPE - MORREU EM 20.09.1937
FRANCISCO DOMINGOS QUINTAS - MORREU EM 22.09.1937
RAFAEL TOBIAS - MORREU EM 22.09.1937
AUGUSTO DA COSTA - MORREU EM 22.09.1937
CANDIDO ALVES BARJA - MORREU EM 24.09.1937
ABILIO AUGUSTO BELCHIOR - MORREU EM 29.10.1937
FRANCISCO ESTEVES - MORREU EM 29.01.1938
ARNALDO SIMÕES JANUÁRIO - MORREU EM 27.03.1938
ALFREDO CALDEIRA - MORREU EM 01.12.1938
FERNANDO ALCOBIA - MORREU EM 19.12.1939
JAIME DE SOUSA -MORREU EM 07.07.1940
ALBINO COELHO - MORREU EM 11.08.1940
MÁRIO DOS SANTOS CASTELHANO - MORREU EM 12.10.1940
JACINTO FARIA VILAÇA - MORREU EM 03.01.1941
CASIMIRO FERREIRA - MORREU EM 24.09.1941
ALBINO ANTÓNIO CARVALHO - MORREU EM 23.10.1941
ANTÓNIO OLIVEIRA E SILVA - MORREU EM 03.11.1941
ERNESTO JOSÉ RIBEIRO - MORREU EM 08.12.1941
JOÃO DINIS - MORREU EM 12.12.1941
HENRIQUE VALE DOMINGUES - MORREU EM 07.07.1942
BENTO ANTÓNIO GONÇALVES - MORREU EM 11.09.1942
DAMÁSIO MARTINS PEREIRA - MORREU EM 11.11.1942
ANTÓNIO JESUS BRANCO - MORREU EM 28.12.1942
PAULO JOSÉ DIAS - MORREU EM 13.01.1943
JOAQUIM MONTES - MORREU EM 14.02.1943
MANUEL ALVES DOS REIS - MORREU EM 11.06.1943
FRANCISCO NASCIMENTO GOMES - MORREU EM 15.11.1943
EDMUNDO GONÇALVES - MORREU EM 13.06.1944
MANUEL DA COSTA - MORREU EM 03.06.1945
JOAQUIM MARREIROS - MORREU EM 03.11.1948
ANTÓNIO GUERRA - MORREU EM 28.12.1948

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