domingo, 17 de fevereiro de 2008

Junto do Céu - Poesia e Prosa


NA BUSCA DO REGRESSO de Entre Aspas
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Estas águas nascem junto do céu
Estes corpos são puros e sagrados
Trazem junto ao peito os dias luminosos
E aquecem os seus sonhos perto do mar.
Estas praias são feitas do regresso
Ao tempo em que o tempo já não se conta
Há arcos de luz acesos no olhar
Que deixamos no fundo da idade.
Estas madrugadas que lembram hinos
Criados pela voz da liberdade
Com cores de romã e de cereja
E a beleza de não haver saudade.
Estas manhãs enormes são o berço
Onde se embala a vinda da magia
Onde há génios amigos sorridentes
-----Deslumbrados pelo sol do meio dia.
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Renascer

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Junto do céu sentei-me tristemente,
Enquanto os olhos choravam inquietos
O coração reluzia tão latente
Que os gazeios feriam os afetos.
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Ao lado do mar chorei alegremente,
Era aquele amor de flora,de gravetos
Que um dia por ele chorei,inocente,
Nos perdoamos daquela dor no peito.
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Como o amor as pazes são sementes,
Se planta,se colhe,se diz:refeito.
Errar da mesma forma não mais!Amantes
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Somos,com brio,garbo e intento,
Mulher com sentimento fulgurante,
Homem com pétalas de amor no pensamento!
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Maikel Mendonça -Manaus, Brazil
in
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Histórias do Arco-Íris

excerto

Génesis

No princípio do princípio tudo era caos e mar, um mar profundo escuro e negro onde as escuras águas se revolviam em desassossego e não havia terra nem havia céu. Que tristeza!, pensou o menino velho. Que fazer para que tudo se veja e para que a cor vista a paisagem de suavidade e de encanto? Já sei!, disse o menino velho, depois de pensar um instante. Farei com que a luz exista! E assim lançou as sementes da poesia e quando a noite se foi, veio a primeira manhã e com ela a luz do primeiro dia.
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Olhou então o menino velho para baixo e de novo voltou os olhos para cima. Em baixo todos os mares se misturavam e em cima a luz não se via de onde vinha. Uma vez mais, num divino pensamento, separou os mares e criou o firmamento. Agora sim!, era do firmamento, junto do céu, que a luz surgia. Passou a tarde, escureceu, veio a manhã do segundo dia.
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Mas o mundo, assim, era cheio de monotonia. A sua obra ainda agora tinha começado. Foi então que o menino velho separou os mares, um para cada lado, e para que cada mar não terminasse onde outro mar havia começado, foi buscar ao firmamento um pouco de argila e moldou rochas e penedos, picos e montanhas, fez surgir o fogo das suas entranhas, os ventos moldaram figuras bizarras e estranhas e limaram nos picos as suas arestas e, para que ao azul se unisse o verde, criou as árvores e das árvores fez florestas e desceu mais baixo do que as árvores e quis que por debaixo delas o verde também existisse e ordenou que as ervas nascessem e que até a mais simples planta florisse. E as flores deram frutos e os frutos deram sementes onde as árvores mães começaram a guardar os seus testamentos. E o menino velho ficou contente pela beleza que tudo encerrava e aos jardins por onde passeava chamou-lhes terra e gostou do que viu. Passou uma tarde, veio a manhã, era o terceiro dia e o primeiro em que sobre a terra a luz do firmamento caiu.
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Depois salpicou o céu da noite de muitas estrelas e ordenou que a Lua se passeasse entre elas. E porque durante a noite a sua luz mal se via, para que o dia sucedesse à noite e a noite fizesse desejar o novo dia, ordenou que o Sol enchesse de cada vez metade da terra com a sua alegria enquanto a outra metade em paz descansaria. E de novo o ciclo da criação se repetia. Veio a tarde, escureceu e de novo chegou a manhã do quarto dia.
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Mas o menino velho ainda estava triste. Faltava qualquer coisa para animar tudo isto. Já havia mar, luz, firmamento, terra, noite e dia, mas vida, a vida pouco se via. É claro que as árvores e as flores quebravam a monotonia, mas era paz de mais a paz que existia. Era uma paz que apenas o vento movia. Foi então que lhe surgiu a ideia. Que apareçam todos os animais, uns mais fracos, outros muito fortes, uns lentos, outros velozes, e que os mais fracos alimentem os mais fortes e que os outros se alimentem das plantas para que se encerre a cadeia. Agora sim, era maior a alegria, porque em todos os cantos do mundo, do mais alto ao mais profundo, tudo se movia. E veio a manhã do quinto dia.
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Ao sexto dia o menino velho acordou sobressaltado. Depois de tanta obra feita e de ter gostado de tudo quanto viu, olhou em volta, percorreu o perto e o distante, o próximo e o longínquo horizonte, e não encontrou ninguém que a si fosse semelhante com quem partilhar todo aquele encanto, com quem brincasse, ou aborrecesse, com quem conversasse ou, simplesmente, quem o acompanhasse ouvindo o murmurar das águas de uma fonte. E assim criou o homem e de uma costela deste, também à sua imagem e semelhança, a mulher, obra digna de se ver e pô-los a viver no paraíso terrestre. E à semelhança da rocha, que em duas partes partiu, onde de um fez encosta, do outro fez vale e rio. E mandou que se amassem, até encher o jardim. E o sexto dia acabou assim.
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A obra finalmente ficou completa. Ao sétimo dia o menino velho foi então poeta. Contemplou tudo quanto havia feito e gostou do que viu. Achou que tudo era simples e que por isso tudo era perfeito. Olhou a imensidão do mar e o sossego da floresta. Aproveitou para descansar, e ao sol, dormiu a sesta. E sonhou.
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.........E no sonho havia um arco-íris em cada céu do universo.
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in
Letras e Estudos Luso-Canadianos
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um Sítio a Visitar
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11/07/2006
O urubu e a dispnéia, por Sebastião Nery*


Enviada por Chagas Lourenço, de Natal/RN

* Publicada na TRIBUNA DA IMPRENSA, sexta-feira, dia 17 de outubro de 2003


Três índios bolivianos, à beira do lago Titicaca, lá junto do céu, ao pé do pico de Illampu, com 6.550 metros de altura, encostados nas pedras, olhando o infinito, fumavam seus longos cigarros de fumo de coca. Depois de horas do silêncio, um deles falou:

- Vou comprar a General Motors, a Volkswagen, a Ford, a Fiat, a Mercedes-Benz, a Toyota, e ser o maior industrial do mundo.

Os outros dois não disseram nada. Continuaram olhando o infinito e fumando seus imensos cigarros de fumo de coca. O segundo então falou:

- Pois eu vou comprar o Banco Central dos Estados Unidos, o Banco Central da Inglaterra, o Banco Central da Alemanha, o Banco do Brasil, o da Bolívia, todos os grandes bancos e vou ser o maior banqueiro do mundo.

Os outros dois nada disseram. E o terceiro, que nada tinha falado, falou:

- Não vendo!

E os três continuaram calados.
GERALDO MELO

Geraldo nasceu em Natal, Rio Grande do Norte,

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imagem retirada daqui



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