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Quanto a mim, sei que a prisão me será mais dura, como nunca foi para qualquer outro. Sei que ela será pesada de ameaças vis e cobardes provocações, mas não a temo, como não temo a fúria do tirano que arrancou a vida a setenta dos meus irmãos. CONDENAI-ME, POUCO IMPORTA, A HISTÓRIA ME ABSOLVERÁ
Parte de A História me Absolverá, de Fidel Castro...
Sexta-feira, 25 de setembro, durante a noite, véspera da terceira sessão, apresentaram-se em minha cela dois médicos da penitenciária. Estavam visivelmente penalizados: "vimos fazer-te um exame", disseram-me. "E quem se preocupa tanto pela minha saúde?", perguntei-lhes. Efetivamente, desde que os vi, compreendera o objetivo de sua visita. Não puderam ser mais gentis e me explicaram a verdade: nessa mesma tarde estivera na prisão o coronel Chaviano (5) e lhes disse que eu "no julgamento estava ocasionando um terrível dano ao governo” que deviam assinar um atestado onde constasse que me achava enfermo e não podia, portanto, continuar assistindo às sessões. Expressaram-me, além disso, que se dispunham a renunciar a seus cargos e a se expor a perseguições. Colocavam o assunto em minhas mãos para que decidisse. Para mim era duro pedir àqueles homens que se deixassem imolar sem quaisquer considerações, mas tampouco podia consentir, sob nenhum pretexto, que fossem levados a cabo tais desígnios: "Vocês saberão qual seu dever; eu sei bem qual o meu".
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Depois eles retiraram-se, firmando o atestado. Sei que o fizeram porque acreditavam de boa fé que era o único modo de salvar-me a vida, que viam correr o maior perigo. Não me comprometi a guardar silêncio sobre este diálogo. Estou comprometido somente com a verdade, e se, neste caso, ao proferi-Ia, pudesse prejudicar o interesse material desses bons profissionais, deixo isenta de toda dúvida sua honra, que vale muito mais. Naquela noite, redigi uma carta para este tribunal, denunciando o plano que se tramava, solicitando a visita de dois médicos do foro para que atestassem meu perfeito estado de saúde e expressando que, se para salvar minha vida devia permitir semelhante artimanha, preferia perdê-la mil vezes. Para dar a entender que estava resolvido a lutar sozinho contra tanta baixeza, aduzi ao que escrevera aquele pensamento do Mestre: "Um princípio justo do fundo de uma cova é mais poderoso que um exército. Essa a carta que, como sabe o tribunal, foi apresentada pela doutora Melba Hernández na terceira sessão do sumário de 26 de setembro. Apesar da vigilância que pesava sobre mim, consegui que a missiva chegasse a ela. Por causa dessa carta, naturalmente, foram tomadas represálias: a doutora Hernández ficou incomunicável, e, como eu já estava incomunicável, fui confinado para o lugar mais afastado do cárcere. A partir de então, todos os acusados eram revistados minuciosamente, dos pés à cabeça, antes de ir para o sumário (7).
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Os médicos do foro visitaram-me no dia 27 e atestaram que eu estava bem de saúde. Em que pese as ordens reiteradas do tribunal, não tornaram a me levar a nenhuma sessão do julgamento. Acrescente-se ao fato que todos os dias eram distribuídas, por pessoas desconhecidas, centenas de panfletos apócrifos nos quais se falava em arrancar-me da prisão, alegação estúpida para eliminar-me fisicamente sob o pretexto de evasão. Fracassados tais propósitos pela denúncia oportuna de amigos alertas e descoberta a falsidade do atestado médico, não lhes sobrou outro recurso, para impedir meu comparecimento ao julgamento, que o desacato aberto e descarado.
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Um fato inédito se verifica, senhores juízes: um regime tinha medo de apresentár um acusado diante dos tribunais; um regime de terror e sangue se espantava diante da convicção moral de um homem indefeso, desarmado, incomunicável e caluniado. Assim, depois de me haver privado de tudo, privava finalmente do direito de estar presente ao julgamento onde eu era o principal acusado. Tenha-se em conta que isto era feito quando estavam suspensas todas as garantias, cumpria-se com todo o rigor a Lei de Ordem Pública (8) e funcionava a censura do rádio e da imprensa. Que crimes tão horríveis terá cometido este regime que tanto temia a voz de um acusado!
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History Will Absolve Me
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Depois eles retiraram-se, firmando o atestado. Sei que o fizeram porque acreditavam de boa fé que era o único modo de salvar-me a vida, que viam correr o maior perigo. Não me comprometi a guardar silêncio sobre este diálogo. Estou comprometido somente com a verdade, e se, neste caso, ao proferi-Ia, pudesse prejudicar o interesse material desses bons profissionais, deixo isenta de toda dúvida sua honra, que vale muito mais. Naquela noite, redigi uma carta para este tribunal, denunciando o plano que se tramava, solicitando a visita de dois médicos do foro para que atestassem meu perfeito estado de saúde e expressando que, se para salvar minha vida devia permitir semelhante artimanha, preferia perdê-la mil vezes. Para dar a entender que estava resolvido a lutar sozinho contra tanta baixeza, aduzi ao que escrevera aquele pensamento do Mestre: "Um princípio justo do fundo de uma cova é mais poderoso que um exército. Essa a carta que, como sabe o tribunal, foi apresentada pela doutora Melba Hernández na terceira sessão do sumário de 26 de setembro. Apesar da vigilância que pesava sobre mim, consegui que a missiva chegasse a ela. Por causa dessa carta, naturalmente, foram tomadas represálias: a doutora Hernández ficou incomunicável, e, como eu já estava incomunicável, fui confinado para o lugar mais afastado do cárcere. A partir de então, todos os acusados eram revistados minuciosamente, dos pés à cabeça, antes de ir para o sumário (7).
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Os médicos do foro visitaram-me no dia 27 e atestaram que eu estava bem de saúde. Em que pese as ordens reiteradas do tribunal, não tornaram a me levar a nenhuma sessão do julgamento. Acrescente-se ao fato que todos os dias eram distribuídas, por pessoas desconhecidas, centenas de panfletos apócrifos nos quais se falava em arrancar-me da prisão, alegação estúpida para eliminar-me fisicamente sob o pretexto de evasão. Fracassados tais propósitos pela denúncia oportuna de amigos alertas e descoberta a falsidade do atestado médico, não lhes sobrou outro recurso, para impedir meu comparecimento ao julgamento, que o desacato aberto e descarado.
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Um fato inédito se verifica, senhores juízes: um regime tinha medo de apresentár um acusado diante dos tribunais; um regime de terror e sangue se espantava diante da convicção moral de um homem indefeso, desarmado, incomunicável e caluniado. Assim, depois de me haver privado de tudo, privava finalmente do direito de estar presente ao julgamento onde eu era o principal acusado. Tenha-se em conta que isto era feito quando estavam suspensas todas as garantias, cumpria-se com todo o rigor a Lei de Ordem Pública (8) e funcionava a censura do rádio e da imprensa. Que crimes tão horríveis terá cometido este regime que tanto temia a voz de um acusado!
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Eu leio!!!: Parte de A História me Absolverá, de Fidel Castro...
La Historia me absolverá
Pronunciado por Fidel Castro en el juicio del Moncada, el 16 de octubre de 1953. Descargar texto completo de La Historia me Absolverá ... |
History Will Absolve Me
TEXTO INTEGRAL - INGLÊS
Translated: Pedro Álvarez Tabío & Andrew Paul Booth (who rechecked the translation with the Spanish La historia me absolverá, same publisher, in 1981) ... |
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