sábado, 9 de fevereiro de 2008

Beato Salazar (4) - António de Oliveira Salazar não foi nem um santo nem um facínora

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* José Pires

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As opiniões do confrade Victor Elias acabam por me ver tentado a dar alguns palpites sobre os fantasmas do nosso passado recente, glosado à saciedade por facções opostas, irredutíveis, que não deixam (ambos!) de acabar por dar imagens distorcidas da verdade. Enquanto não aprendermos a avaliar os factos na sua devida dimensão e apenas apresentarmos as nossas razões sob o peso das paixões ou aversões primárias que sentimos, nunca chegaremos a lograr demonstrar a validade das nossas opiniões. A Verdade é o que é. Raramente aquilo que pretendemos que seja.
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A verdade é que António de Oliveira Salazar não foi nem um santo nem um facínora. Foi o que foi. Fruto dos tempos e da sociedade em que cresceu e se desenvolveu e aprendeu a medir o mundo - o mundo do seu tempo. Quem quer que se disponha a analizar a sua acção como governante, tem de se reportar aos factos e à época em que ela aconteceu. Procurar fazer cotejos entre uma situação que ocorreu no passado com os valores que são naturais na actualidade é, no mínimo, irrealista e não nos pode elucidar e ajudar a ver melhor.
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Salazar cresceu como pessoa entre a confusão, a balbúrdia, o arbítrio e a violência que caracterizaram os tempos da 1ª República. O tenebroso caso da "camioneta fantasma" é suficiente para se compreender melhor o que foram os tempos da juventude de Salazar.
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Cresceu e desenvolveu-se num período em que o sistema parlamentar apenas servia para entravar a acção governativa e exaltar a violência das várias facções que se degladiavam da forma mais selvática e implacável. Os governos sucediam-se e os leaders eram removidos por golpes de toda a ordem, quando não sumariamente assassinados.Perante este caos e violência, como não perceber a sua aversão aos sistemas parlamentares, ditos democráticos?
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Nessa altura, tinha rebentado a revolução bolchevique, que ameaçava subverter a Europa, logo a partir da Alemanha, saída derrotada da Grande Guerra e abraços com uma situação económica que tornava a nação próximo do inviável. Paralelamente a esta situação e num país vizinho, a Itália, um professor primário, jornalista e revolucionário político, que começara nos ideais socialistas e comunistas, lançava uma ideia de transformação da sociedade sob perspectivas novas. Obteve algum sucesso inicial, conseguiu controlar a instabilidade política e restabelecer alguma ordem social, deitando para isso mão a tudo o que pudesse conduzir ao triunfo dos seus intentos.
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De novo na Alemanha, um ex-cabo do exército austro-hungaro que se vira rejeitado pela academia de belas-artes germânica, meteu-se a organizar uma nova classe política que pudesse arrancar a Alemanha do caos, confusão e miséria em que se atolara desde 1918! E também ele conseguiu sucesso espectacular, organizando a economia e repondo o sistema industrial a funcionar, acabando com o desemprego e conseguindo dar aos alemães algum respeito próprio. E o sucesso foi tão grande e tão rápido que gerou admiradores em muitas nações europeias e até na outra margem do Atlântico, onde o desemprego e as dificuldades económicas geravam tumultos e violência.
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Como não entender que um político que era chamado a controlar uma nação envolta em caos político, económico e social não olhasse para os figurinos estrangeiros que se desenrolavam diante de si? De um lado, a sociedade soviética onde a violência e o caos económico geravam purgas sangrentas entre os homens que tinham implementado a Revolução de Outubro, que foram mesmo eliminados na sua totalidade! Do outro, uma forma de resolver as coisas que se mostrava mais eficaz e mais de acordo com a mentalidade de alguém que começara a sua educação num seminário católico. A escolha que se viu obrigado a fazer não poderia ter sido outra.
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Logrou, também ele, um sucesso retumbante, conseguindo equilibrar a economia e controlar, em poucos anos, um orçamento que já tinha décadas. A ordem pública foi restabelecida e a desordem politico/partidária controlada. Com alguns anos de governação, viu-se confrontado com uma horrenda guerra civil mesmo na nação vizinha, onde as duas forças do figurino político por onde se podia optar, se degladiavam da forma mais cruel e impiedosa. Como não entender os dilemas com que se via confrontado?
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A sua falha, quanto a mim, deu-se quando a partir do fim da II Guerra Mundial não restabeleceu as liberdades formais e não permitiu que se instaurasse um regime democrático semelhante aos que havia na Europa ocidental. E as perseguições políticas aos comunistas prosseguiram sem descanso. Eles têm suficientes razões para detestarem Salazar e o Estado-Novo, pois estes barravam o caminho para a sociedade comunista pela qual lutavam com tanto ou mais ardor do que hoje fazem os fundamentalistas islâmicos por motivos religiosos.
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A Censura à imprensa era o que havia de mais detestável na sua governação. Se por um lado impedia a propalação de notícias que de alguma forma podiam prejudicar a sua acção governativa, por outro não concedia a menor credidilidade a tudo o que imprensa publicasse, fosse verdade ou mentira. Dáva-se mais crédito a um boato disparatado do que a um notícia verdadeira que surgisse num jornal.
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Voltando aos dias de hoje, onde Salazar, pela primeira vez, logrou uma vitória esmagadora numa eleição popular, apareceu apedrejada e vandalizada a sua sepultura.
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Parece mentira, mas quem praticou esse acto lamentável apenas estará a contribuir para uma crescente admiração popular pelo antigo Presidente do Conselho! Actos destes deveriam ser punidos pelas forças que desejam denegrir a sua figura! Dessa forma estão a conseguir resultados diametralmente opostos aos que ambicionam! Parece mentira mas é a Realidade!
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Os chamados "salazarentos" deviam repoltrear-se de gozo, pois assim estão a dar um decisiva ajuda aos seus designios e ideias! Só não vê quem não quer!


Com amizade
José Pires
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