* Carlos Coutinho -
Que alívio!
APENAS hoje fiquei a saber da frase mais importante que Joe Biden proferiu na conferência de imprensa conjunta com Zelensky na Casa Branca. Rejeitando o insistente pedido do seu homólogo ucraniano para a cedência de armas mais sofisticadas, Biden considerou que entregar esse armamento à Ucrânia teria como consequência “desintegrar a NATO, desmembrar a Europa e o resto do mundo”.
A desintegração da Europa e, sobretudo da NATO, não me incomodaria nada, mas o resto da afirmação do Presidente norte-americano deixou-me, pela primeira vez, algo confortado. Isto, apesar de ficar também a saber que, desde janeiro, Washington já entregou a Zelensky 47,8 mil milhões de euros, dos quais 23 mil milhões em meios militares, tendo também o Senado acabado de aprovar mais um pacote de 47 mil milhões para 2023.
Assim como também só hoje fiquei a saber que Israel matou na Palestina mais de 220 cidadãos locais, feriu 9 mil e prendeu 6 500, segundo o chefe o primeiro-ministro palestiniano, Mohammad Shtayyeh que deu estes números sinistros, em Ramalah, na terça-feira, numa conferência de imprensa, acrescentado que mais de 832 edifícios e e infraestruturas foram demolidos e 13 mil oliveiras arrancadas.
Claro que estes horrores de marca israelita já não surpreendem ninguém. Nem mesmo o nosso catolicíssimo António Guterres que usa palas cautelosamente norte-americanas para só ver o que se passa na Ucrânia.
Mas da questão ucraniana também podem sair boas notícias que vão passando despercebidas na nossa Comunicação Social, sintonizada que está, ou queira mostrar-se, com o pensamento de Ana Gomes e com o que julga agradar à NATO. Por essas e por outras, aliás, é que a Redação da RTP, seguindo o exemplo da “Time” e do “Jornal de Notícias”, elegeu ontem Volodimir Zelensky “Personalidade do Ano”, como teria elegido o cego que conduz outros cegos, se ainda vivêssemos no tempo de Pieter Bruegel o Velho.
À tarde
NASCEU em 1401 em Cusa, cidade alemã com o nome atual de Bernkastel-Kues que fica perto do rio Mosela, cerca de 130 quilómetros a sul de Bona, Alemanha. Chamaram ao menino Nicolau Krebs ou Nicolau Chrypffs, mas acabou por ficar como Nicolau de Cusa (Kues), porque aí um asilo para idosos, edifício que abriga hoje a Biblioteca de Cusa, com mais de 310 manuscritos.
Quando faleceu em Todi, Itália, no dia 11 de agosto de 1464, já era cardeal, mas pouco ortodoxo. Ficou consagrado como um dos primeiros filósofos do humanismo renascentista e autor do famoso “Da Douta Ignorância”, publicado em 1440 e agora posto em português pela Gulbenkian, com um extenso prefácio analítico de João Maria André que também traduziu a obra.
Nicolau era filho de um barqueiro, João Cryfts, e de Catarina Roemer. Pescava em todas as águas, pelo que tem sido considerado o pai da filosofia alemã, aquela cordilheira onde se erguem cumes tão altos como Kant, Hegel, Marx, Engels e, até um tal Friedrich Nietzsche que chegou a falar em nome de Zaratustra.
Repare-se nestas delícias que nos ajudam esta noite a encerrar o macabro ano de 2022:
"LIVRO TERCEIRO
"CAPÍTULO I
"189 Os princípios individuantes não podem concertar-se em nenhum indivíduo numa proporção harmónica tal como num outro indivíduo, e, assim, qualquer um é por si um só e perfeito do modo que pode. E ainda que em alguma espécie, como a humana, num dado tempo, se encontrem alguns indivíduos mais perfeitos e mais excelentes que outros segundo certas (qualidades), como Salomão que superava os outros em sabedoria, Absalão em beleza, Sansão em força, e ainda aqueles que mais superam os restantes no aspeto intelectual mereçam ser honrados mais que os outros, todavia, porque a diversidade de opiniões torna diversos os juízos de comparação de a acordo com a diversidade de religiões, de seitas e de regiões, de modo que o que é louvável segundo uma é vituperável segundo outra e há dispersos pelo mundo (homens) que desconhecemos, não sabemos, por isso, quem é mais excelente de entre os outros uma vez que nem um de todos podemos chegar a conhecer perfeitamente."
"CAPITULO VI
"215 (…) não há duvida de que o homem existe (dotado de) sentidos, de intelecto e de uma razão que está no meio de ambos e os une. Mas a ordem (das coisas) faz com que os sentidos estejam submetidos à razão e a razão ao intelecto não é do âmbito do tempo e do mundo mas desligado deles; os sentidos são do âmbito do mundo estão e estão sujeitos aos movimentos no tempo; a razão está como que no horizonte relativamente ao intelecto, mas no zénite relativamente aos sentidos, de modo que nela coincidem as coisas que estão no tempo e acima do tempo."
Talvez por isso, o papa alemão, o emérito João Paulo II, tenha escolhido os últimos minutos de 2022 para voar para o Paraíso em que jurava acreditar, depois de ter sido o cardeal da ortodoxia contrarreformista (Dicastério da Doutrina da Fé), mantendo o corte com a dinastia pontifícia italiana iniciado por um polaco que inventou e financiou um sindicato, restaurando com apoio da NATO capitalismo mais abjeto que a Europa já conheceu e que um sucessor argentino está agora a tentar limar, adaptando-o à modernidade democrática e à moralidade possível.
Na sua juventude, o agora falecido Bento XVI ingressou na Juventude Hitleriana e, segundo o seu biógrafo John Allen Jr. combateu no exército alemão, mas com 16 anos desertou do serviço militar.
Ratzingker estudou filosofia e teologia, em Munique e Freising e ensinou em diversas universidades. Em março de 1977, foi nomeado arcebispo de Munique e cardeal três meses depois.
Era da maior confiança de Karol Józef Wojtyła que combateu do lado oposto, mas talvez se tenha arrependido, a ponto de ser entronizado em 2014 como João Paulo II. Foi a natural prenda que então se dava a um padre, bispo e finalmente cardeal, que abriu a porta ao neofascismo da família Kasinski que ainda não desistiu de abocanhar o Norte da Ucrânia, dado ter sido uma região da Polónia até fim da Segunda Guerra Mundial com capital em Lviv, então Cracóvia.
Em 1967, ele foi importante na formulação da encíclica 'Humanae Vitae', que proíbe a eutanásia e interrupção voluntária da gravidez, questão novamente na berra, mesmo em Portugal
Inventou também as jornadas mundiais da juventude e cheira-me que há certas similitudes entre o Solidarnocs, que instrumentalizou, e o nosso STOP, aquele sindicato de professores que está já a mexer muito por aí.
2022 12 31
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