sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Filipe Chinita - Vermelho


* Filipe Chinita

Filipe

uma das raras críticas a “vermelho eu. colectiva.mente por esse Alentejo a.fora” de Filipe Chinita . A primeira surpresa com este livro de Filipe Chinita, de apurado gosto gráfico, é a disposição dos poemas, que surgem em cada página como se foram estalactites que gotejam nas grutas da memória, formando pequenas esculturas sempre diferentes . Nesta poesia ouve-se muito o silêncio, ecos desgarrados de solidão, de desespero, de raiva contida, de desamparo, de tempo ardido e, na secura dos dias, a busca incessante da água fresca e limpa do amor e da amizade . Outra singularidade vem do grafismo das palavras, a pontuação inusitada, a diversidade dos tipos de letra, a representar várias vozes no mesmo fio discursivo. O autor terá o seu critério mas, como leitor, encontro-lhe, além de um desdobramento de significados, a expressão de um ritmo melódico que revela uma certa musicalidade que, pouco a pouco, se vai reconhecendo à medida que ouvimos com mais nitidez uma voz que vem lá da lonjura . Deste modo nos aproximamos do itinerário poético de Filipe Chinita, cujo alvor se situa nos primeiros anos da Revolução de Abril, no regresso de França para onde emigrou por se recusar a fazer a guerra colonial . Chegavam, então, os dias luminosos da construção de um país novo, o movimento do povo trabalhador, num clamor imenso de liberdade e de justiça, tempo heróico de conquista de direitos e desse bem maior que foi a Reforma Agrária . Veio mais tarde, depois do golpe de Novembro e da Constituição salva no limite, o regresso dos latifundiários, servidos pelos barretos de ocasião. Longos anos de amargor e resistência, de luta, de firmeza, de valentia contra a força bruta, a repressão, ódio, gritos, ameaças, disparos, como os que vitimaram os trabalhadores alentejanos Casquinha e Caravela, como já antes haviam ceifado a vida de Catarina Eufémia . O 'vermelho eu' nasce nessa época de redenção e enfrentamento, em que Chinita foi revolucionário a tempo inteiro. . Alguns poemas são povoados de vocábulos despidos de qualquer tonalidade lírica, como reuniões, greves, manifestações, centros de trabalho, tractores, partido, camionetas, panfletos, um pequeno universo de coisas simples, chãs, concretas . Dir-se-á não se vislumbrar ali um halo poético. . Mas, justamente, foi Cesário Verde um dos primeiros a introduzir no discurso literário, em versos metricamente perfeitos, de tocante beleza, como em “o sentimento de um ocidental”, palavras que se diriam duras e inapropriadas, e o mesmo encontramos em alguns dos mais marcantes poemas de João Cabral de Melo Neto . Na verdade, não há palavras poéticas, podem mesmo ser materiais ásperos, rudes, vulgares, há, sim, voz poética, que medeia e transfigura o real, há um acto poético, que une quem escreve e quem ouve ou lê . Por isso, acontecerá com os leitores mais atentos, como aconteceu comigo, voltar atrás na leitura, porque em algum momento houve algo que nos prendeu, que nos induziu o desejo de uma partilha . O livro tem muitos desses momentos mágicos em que acontece poesia, porque a arte não reproduz o real, revela o que está para além da superfície das coisas e dascircunstâncias, lá onde se descobre um lugar de encontro e encantamento. Pode ser uma viagem de autocarro, um tempo de espera, uma casa de camaradas, a lembrança de uma familiar querida. Ou a evocação de um tempo de provações e desespero, como nesse belo texto que é “a amoreirinha” . É o Alentejo que está sempre presente, a sedução da terra, a grandeza da gente, um tempo longo de abandono e miséria de tantos e da opulência de uns poucos, de injustiça mas não de submissão, de sofrimento mas não de lamúria, de humilhação mas também de revolta . Sempre presente o afecto pelas mulheres, a busca do amor, a alegria da fraternidade que brota entre os que têm um ideal comum . Vale bem a pena ler e ter este livro de Filipe Chinita. É uma memória do Portugal de Abril que assim refulge em palavras de luz e beleza . jorge sarabando 'da resistência à construção de democracia. uma outra visão' âncora.editora outubro 2022 __________________________ a meu modo... no vermelho de chinita fj como obrigado e como pedido a que comprem leiam e partilhem o seu belo e necessário! livro
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