terça-feira, 29 de abril de 2025

Artur Queiroz Apagão da Luz e do Jacinto --

* Artur Queiroz

Abril, 28. 11 horas da matina. 

Mana Fina liga o gerador, a luz foi. Não ouves? Preciso de energia para a internet. Tenho de mandar um texto. Sou o monangambé da escrita. Se falho vou no contrato. Me prendem nas cordas. Me rapam o cabelo. Cabeça de galinha ó Zé. Vai para a tua terra no mato. Aqui não é lugar para gentios. 

Ouviste Mana Fina? Vai ligar o gerador. Esses cabrões da EDP não sabem cuidar da luz. São engenheiros do matongé.

Desta vez enlouqueceste mesmo. Aqui não há Mana Fina nem gerador. Os escribas em Gaza também estão sem luz, medicamentos, água e comida. Levam com bombas nas casas, costados e cabeças. 

As crianças em Gaza morrem despedaçadas pelas bombas dos nazis de Telavive. Só querem mesmo brincar nas ruas sem luz. Brincar. A internacional fascista vai riscar do mapa a Palestina. Depois são riscados todos os que não aceitarem as tarifas da Casa dos Brancos e viverem nos parâmetros da democracia. Abaixo a liberdade. És um felizardo seu burguês alienado. Hoje não te enchem a pança de lixo mediático.

Mana Fina liga o gerador. Falta-me o vício do espectáculo. Quero ver a Kieza reportar do Bairro das Flores em Buenos Aires, mas sem falar com velhos reformados, os mártires das motosserras do nazifascista Milei. 

Mostrem-me os cardeais ajoelhados aos pés de Trump e Zelensky na casa de um deus adormecido há milénios, viciado na boa vida. Ainda bem. Que não acorde do sono eterno. Que nunca veja os crimes que cometem em seu nome.

O colonialismo é genocídio. Sou testemunha. A arma mais usada na matança genocida e na submissão dos africanos foi a cruz de Jesus Cristo, o palestino insubmisso. Tudo virado ao contrário e eu sem luz, como em Gaza.

Na primeira Guerra do Iraque, a coligação ocidental que queria encontrar as armas de destruição maciça (nunca existiram), também me deixou seis dias sem água, luz e comida. Fiquei à rasca. Minha Vovó Ana ensinou-me que fome só ao fim de três dias sem comer. Ao quarto já corremos perigo de morrer. Estava errada. No Iraque só comi ao sétimo dia a ainda aqui ando. 

A minha avozinha também me disse que quando os caminhos ficarem cheios de pedras e capim, a Humanidade vai comer bichos peçonhentos. Os homens vão matar-se na disputa de vermes! Será por isso que apagaram a luz? 

Assim ninguém vê os beiços de Trump escorrendo a gordura do banquete ucraniano. Mas que festim. Um governo de nazis, segundo Bruxelas, Paris, Berlim e Londres, está a defender a democracia na Europa! Os batalhões e brigadas Azovnazis defendem a liberdade dos europeus. E de repente a luz apagou e o povo percebeu. 

A OTAN (ou NATO) perdeu a guerra na Ucrânia contra a Federação Russa. Trump tirou o cavalinho da chuva e só ficou a União Europeia comprometida. Aí Bruxelas, Paris, Berlim e Londres decidiram cortar a luz. Assim os governados aceitam que os governantes desviem os fundos das políticas sociais para financiar a continuação da guerra. E ainda culpam os russos do apagão! Em Portugal o Montenegro e sua tropa de extrema-direita vão culpar também os emigrantes. 

 Eu fiquei sem luz. Mana Fina faz favor, vai ligar o gerador. Faz-me falta, o espectáculo da mentira engalanada, a manipulação decorada, a mentira colorida, a palhaçada desmedida. Estou mesmo a ficar burro com dizia o Mano Ndozi. Aqui não há Mana Fina nem gerador. Se és vítima do imperialismo, aguenta, luta, resiste!

Ai é? Então vou ler o livro do Azulay. Não, esse é para o fim-de-semana. Hoje é dia de ler a Obra Reunida de António Jacinto. A tiragem foi de 400 exemplares e eu sou um dos felizardos que tem uma cópia do livro. 

Mesmo que me castiguem e fique sem luz um ano, vou mesmo dizer a minha verdade. A Obra Reunida de António Jacinto devia ter uma tiragem de 30 milhões de exemplares, uma cópia para cada angolano. E todos os anos deviam fazer uma tiragem para oferecer um exemplar a cada criança que nasce. Um livro de António Jacinto no enxoval. Que maravilha!

Isto quer dizer que o ministro da Cultura do Executivo chefiado por João Lourenço já devia estar fora do governo. E João Lourenço fora do Palácio da Cidade Alta. Para responder por crimes graves contra a Cultura Angolana.

A Obra Reunida de António Jacinto com uma tiragem de 400 exemplares? Pintem a cara de branco e vão governar para a lixeira!

Mana Fina faz favor, vai ligar o gerador. A luz foi. 

A luz voltou! São 22 horas e 22 minutos. Aí vai texto.

* Jornalista

https://ponteeuropa.blogspot.com/2025/04/divagando-entre-o-serio-e-o-frivolo.html

quinta-feira, 24 de abril de 2025

José Oliveira Vidal - Dicionário da propaganda ocidental


7(Zé Oliveira Vidal, in Estátua de Sal, 23/04/2025, revisão da Estátua)
 Imagem gerada por Inteligência Artificial
________________________________________
(Este artigo resulta de um comentário a um texto que publicámos sobre a guerra na Ucrânia do Major-General Carlos Branco (ver aqui). Pela sua acutilância e pedagogia sobre o reconhecimento das narrativas mediáticas da propaganda ocidental, resolvi dar-lhe destaque.

Estátua de Sal, 24/04/2025)

Tudo, TUDO o que passa nos mainstream média ocidentais é DESINFORMAÇÃO USAmericana! TUDO!

Se vês/ouves a CNN, estás a ver/ouvir o que os porcos imperialistas em Washington querem. A mesmíssima coisa para a FOX News e companhia.~

Da Rússia, a “propaganda” que vem são FACTOS. A parte central da propaganda USAmericana na Europa e Portugal passa por chamar “propaganda russa” aos factos e até mesmo às opiniões neutrais ou equidistantes.

Noutros países da Europa, debate-se a NATO, a União Europeia e o Euro. Debate-se a vassalagem aos EUA e o apoio aos nazis ucranianos e a tolerância para com os genocidas israelitas/sionistas. Em Portugal não. Porquê? Porque, ao contrário da MENTIRA da CNN, Portugal é, isso sim, um dos maiores vitimizados pela presença de propaganda USAmericana!

Poderia separar a propaganda da BBC/Mi6, daquela outra da Mossad/Israel, ou da Euronews/UE, mas, nos dias que correm, não vale a pena. É tudo do mesmo saco: avençados e agentes ao serviço de Washington.

Queres saber como isto funciona? Lê sobre os escândalos da USAID, NED, e companhia. A forma como eles corrompem “jornalistas” e políticos por toda a Europa.

Obviamente, terás de ler sobre isto em meios de comunicação fora do Ocidente, ou muito alternativas dentro do Ocidente, como é o caso do jornalismo de investigação do Greyzone, ou do blog de geopolítica MoonOfAlabama, ou o excelente Consortium News, ou o grande exemplo de real jornalismo da Wikileaks, ou de gente independente como a Caitlin Johnstone.

Se vês o que quer que seja na CNN/FOX, ou BBC, Euronews, ou RTP/SIC/TVI/Now/CMTV, e se não percebeste ainda que são antros de corrupção e fakenews, que debitam propaganda e manipulação 24 horas por dia, então não percebeste nada do que se está a passar no mundo e, em particular, em Portugal.

A mesma coisa em relação aos meios escritos, como o Expresso/Público, o Der Spegel, The Guardian, El País, etc, e obviamente o Washington Post, The Economist, New York Times, etc.
Aqui tenho de falar finalmente do texto do Carlos Branco: se se baseia no que o New York Times publicou, então baseia-se na mentira.

Obviamente os EUA são quem planeou durante décadas esta guerra proxy contra a Rússia, obviamente os EUA estão envolvidos em TUDO, desde o financiamento a nazis para fazerem o golpe Maidan, até à invasão de Kursk.

Se o New York Times agora publica isso, é porque a Casa Branco assim ordenou. A atual administração quer fazer de conta que está “de fora” de uma guerra proxy que o próprio Trump ajudou a preparar no seu primeiro mandato, em total prolongamento com a agressão imperial seguida por Obama e Biden. Não houve HIMARS a bombardear em Kursk? Houve! Logo aqui se deteta a mentira do New York Times.

Mas para saberes o que eu sei, precisas de ir aos OSINT (Open Source Intelligence) – fontes abertas de inteligência -, que diariamente falam de FACTOS sobre as linhas da frente. Recomendo o Defense Politics Asia, o Southfront (censurado na EUroditadura), o Geroman (a conta Telegram dele compila mapas de várias fontes credíveis, e tem imagens/vídeos com geolocalização), e ainda o WarMonitor (um site do Líbano que fala sobretudo da agressão/genocídio que o ocidente/sionismo comete na Palestina e arredores.

No caso da TV, como a RT está censurada pela EUroditadura, já só sobram os canais CGTN (China) e TeleSUR (Venezuela) para te poderes informar sobre a realidade. E mesmo aqui tens de ter atenção à propaganda de cada um. TODOS fazem propaganda. Mas isso não significa que os outros façam como o Ocidente onde a mentira é descarada e a toda a hora!

E eis uma lista de pistas simples para identificar quem é quem:

Se diz “NATO defensiva” ou “agressão Russa”, então é um canal de propaganda ocidental. Obviamente, factualmente, a NATO é ofensiva, criminosa, e a Rússia está a intervir justificadamente contra quem golpeou a Ucrânia e violou a paz de Minsk.

Se chama “guerra Israel – Hamas”, então é propaganda ocidental. São três mentiras em três palavras. Não é guerra, é GENOCÍDIO. Não é só de Israel (nem é de todos os israelitas), mas sim de sionistas sanguinários ocidentais, e em particular da extrema-direita racista israelita (Netanyahu e companhia são comparáveis a nazis). E não é contra o Hamas, mas sim contra todo o povo palestiniano, acima de tudo mulheres e crianças indefesas.

Se glorifica Zelensky, então é propaganda ocidental. Zelensky é um vassalo corrupto dos EUA, e é de facto um ditador no regime UcraNazi. Só merece condenação, não merece um pingo sequer de tolerância. É contra a paz, persegue a oposição, acha normal glorificar o nazismo, proibiu eleições, ataca crentes ortodoxos, etc.

Se critica a Venezuela, é propaganda ocidental. A Venezuela é uma democracia soberana anti-imperialista. Só merece a nossa admiração e apoio.

Se apoia a União Europeia e as suas instituições de opressão, então é propaganda ocidental. A UE é, de facto, uma ditadura que nos roubou a soberania. Hoje violamos a nossa Constituição e fazemos censura de canais de notícias, por ordem da UE. Recebemos ordens de NÃO-eleitos, como a Leyen e a Kallas, que são obviamente agentes dos EUA com a missão de nos colocar a pagar mais para garantir o lucro da Lockeed Martin, Raytheon, Boeing, etc. Quando estas corruptas ameaçam quem celebrar o Dia da Vitoria a 9 de maio, mas apoiam descaradamente quem glorifica nazis, e repetem toda a propaganda da CIA/Pentágono, então está tudo dito sobre a natureza da UE.

Se promovem Hollywood/Netflix, e seus palhaços/atores, então é propaganda ocidental. Não há arte nem cultura nenhuma nestes meios. Só há propaganda dos EUA e Israel. A “Mulher Maravilha” é uma agente da Mossad apoiante de genocídio. A Marvel coloca a NATO ao lado dos Avengers. Filmes atrás de filmes colocam os russos como os mauzões, e chamam “heróis” aos porcos imperialistas dos EUA/NATO que foram invadir tantos países e assassinar milhões de humanos (no Iraque, no Afeganistão, na Líbia, etc.).

Se falam de cantores dos EUA como “os melhores”, mas não têm espaço para falar sequer de artistas portugueses ou de outras partes do mundo, então é propaganda ocidental. Quantas vezes tu ouviste nas “notícias” na TV falar da Madonna ou da Taylor Swift? Agora compara com as vezes que tais “noticiários” falaram dos portugueses Killimanjaro ou Eu.Clides ou Kleft ou Romeros ou Inês Marques Lucas, etc.. Do melhor que se faz em Portugal nos respectivos géneros, e com ZERO tempo de antena nos “noticiários”.

Abre os olhos!

A Rússia, a China, o Irão, a Venezuela, a Geórgia, a África do Sul, a Argélia, a Bolívia, Cuba, Sérvia e Srpska, até o Hezbollah do Líbano e os Houthis do Iémen, estão do lado certo da História e da Humanidade. Que mal é que algum destes povos te fez a ti ou à Europa? Nenhum! Que mal é que esta gente faz ao mundo? Nenhum!

Nós, em Portugal, é que somos uma mera província sem qualquer independência nem acesso à verdade, num império dos EUA que é terrorista, antidemocrático, fascista, colaborador de nazis, e GENOCIDA.

Os soldados russos estão na sua fronteira e no seu território histórico a salvar gente que é vítima do nazismo ucraniano e do imperialismo ocidental.

Mas os nossos soldados andam a invadir o Kosovo (Sérvia), o Iraque, o Afeganistão, etc., onde quer que o imperador em Washington nos mande invadir.

A Rússia na Crimeia (onde só vivem russos) é “ilegal” e “agressão”, mas nós a exterminar meio milhão de palestinianos ou um milhão de iraquianos ou a colocar a al-Qaeda no poder na Síria é só “democracia e liberdade”.

E todos os que, como eu, já abriram os olhos e contrariam as mentiras do império GENOCIDA ocidental, dizem eles que somos todos “propagandistas do Putin”…

Queres saber como é que a Alemanha foi convencida nos anos 30? Foi assim. Manipulação em massa. Um povo inteiro a acreditar numa narrativa completamente separada da realidade. E a demonização/cancelamento de quem se opõe à narrativa do regime.

Tu, em 2025, ainda andares a acreditar na estrumeira que passa na CNN, é o equivalente a um alemão, em 1945, a andar a acreditar naquilo que a máquina de propaganda de Hitler dizia.

És uma vítima! Não tem mal nenhum abrires os olhos e admitires que foste enganado. Mal será, para todos nós, se a maioria continuar de olhos fechados e a negar a realidade.

https://estatuadesal.com/2025/04/24/dicionario-da-propaganda-ocidental/ 

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Guillermo Cieza - Se murió Francisco I, el Papa conservador popular

* Guillermo Cieza

Siempre consideró a los pobres como un sujeto que merecían asistencia, pero nunca les asignó capacidad de transformar la sociedad 

Este lunes se anunció el fallecimiento del papa Francisco I. Quién en la Argentina conocimos como Jorge Bergoglio, fue un religioso conservador que mostró siempre preocupación por los más pobres, que en América Latina eran disputados por distintas versiones del evangelismo. En el contexto de la rosca Vaticana que heredó de sus antecesores Juan Pablo II y Benedicto XVI, Francisco I fue considerado un renovador.

En la Argentina era conocido por su oposición al kirchnerismo progresista, y por su tenaz persecución a los restos de la teología de la liberación. En la década del 70, estuvo cerca de la agrupación derechista Guardia de Hierro, que tuvo contactos con la peor versión del gobierno peronista y después con el masserismo y la dictadura.

Cuando llegó al Vaticano sus primeros gestos populistas no fueron bien recibidos por los entornos ultraconservadores que habían dejado sus antecesores, y su Papado transitó en un tironeo constante con esos sectores.

La muy buena encíclica 'Laudato Si', difundida en 2015, fue su mayor aporte, porque planteó su preocupación por el cuidado de "la casa común", nuestro planeta y advirtió sobre los riesgos de no atender las alteraciones climáticas.

Esos fervores iniciales se fueron diluyendo con el tiempo, y de hecho fue absorbido por la estructura vaticana. Digamos también a su favor que no llegó a convertirse en el Papa funcional que le exigía la agenda de los grandes poderes mundiales.

Se pronunció en contra de las guerras, llamó a orar por los palestinos, hizo algunos gestos hacia las parejas homosexuales, e intervino tímidamente en algunos casos extremos de pederastia donde estaban involucrados jerarcas de la iglesia.

Uno de los más resonantes fue el caso del sacerdote Karadima, en Chile, cuya influencia en la iglesia de ese país era tan grande que se lo conocía como "el hacedor de obispos". En las tres ciudades chilenas donde habló fue recibido con abucheos por no criticar a los pederastas.

Francisco I hizo más de lo que se esperaba de él, que nunca dejó de ser un ferviente antimarxista y un exponente del patriarcado, que siempre consideró a los pobres como un sujeto que merecían asistencia, pero nunca les asignó capacidad de transformar la sociedad.

Siendo un conservador, no podía recuperar las fuentes originales, subversivas, del primer cristianismo. Francisco I promovió una iglesia que se animara a tocar las llagas de la miseria, a asistir al necesitado o rezar y perdonar al que se había desviado del camino, pero nunca aportar a empoderar a las victimas del sistema.

Hoy buena parte de la prensa del mundo está despidiendo al "Papa Bueno", y el progresismo lamenta su pérdida como uno de los suyos.

Para ser justos, digamos que Francisco I siendo un hombre de la cristiandad, que es la perversa versión institucional y estatal del cristianismo, podía haber sido peor.

 23/04/2025


huellasdelsur.ar

----

Texto completo en: https://www.lahaine.org/mundo.php/se-murio-francisco-i-el

Ruben Dri - Lecturas de Semana Santa: Insurrección popular y toma del templo


* Ruben Dri 

El teólogo argentino Ruben Dri ha hecho un aporte fundamental a la comprensión de las tensiones sociales y política que se vivían en Jerusalén cuando Jesús fue crucificado

Publicamos un fragmento de su obra "La utopìa de Jesus".

Insurrección popular y toma del Templo

El capítulo decimoprimero del evangelio de Marcos señala el final del camino que Jesús ha emprendido desde Galilea hacia Jerusalén, desde el momento del reconocimiento de su mesianismo por parte de Pedro (Mc. 8, 29-30). En las cercanías de Jerusalén se produjo la discusión sobre el poder que hemos comentado. A ella sigue la curación del ciego de Jericó (Mc. 18, 46-51), y luego viene el capítulo decimoprimero, con la entrada de Jesús en Jerusalén.

En Marcos 11, 1-3 se narran los preparativos clandestinos que ya hemos comentado, comparándolos con los de la cena. Todo se realiza según lo planeado (Mc. 11, 4-6), y, en consecuencia, "trajeron el asno a Jesús, le pusieron sus capas encima y Jesús montó en él. Muchos extendieron sus capas a lo largo del camino, y otros, ramas cortadas de los árboles. Tanto los que iban delante como los que seguían a Jesús gritaban ¡Hosanna! ¡Bendito el que viene en nombre del Señor! ¡Bendito el Reino que viene de nuestro Padre David! ¡Hosanna en las alturas!" (Mc. 11, 7-10).


Así entró Jesús en Jerusalén y se fue al templo, y después de revisarlo todo, siendo ya tarde, salió con los Doce para Betania" (Mc. 11, 11). Al día siguiente, al volver a Jerusalén, Jesús maldice a la higuera que no da frutos (Mc. 11, 12-14) y "llegaron a Jerusalén, y Jesús fue al templo. Ahí comenzó a echar fuera a los que se dedicaban a vender y comprar en el templo. Tiró al suelo las mesas de los que cambiaban dinero y los puestos de los vendedores de palomas, y no dejó que transportaran cosas por el templo. Y les hizo esta advertencia: "¿No dice Dios en la Escritura: Mi casa será llamada casa de oración para todas las naciones? Pero ustedes la han convertido en cueva de ladrones"" (Mc. 11, 15-17).

Los sacerdotes jefes y los escribas al saber esto, se preguntaron cómo lo matarían: porque le tenían miedo, pues toda la gente estaba admirada de su doctrina (Mc. 11, 18-19.).

Esta sucesión de escenas culmina con la constatación de que la higuera maldecida se ha secado (Mc. 11, 20-26).

Varios puntos de suma trascendencia se presentan a nuestro análisis:

El centro de todo este relato lo ocupa la insurrección popular, conocida comúnmente como "entrada triunfal en Jerusalén". El clima insurreccional no es nuevo en Palestina. Se lo vive desde el siglo II a. de C. a partir de la ocupación griega realizada por Alejandro Magno, y especialmente a partir de Antíoco IV Epífanes (175-164 a. de C.), rey seléucida que pretendió hacer perder al pueblo judío su identidad, para lograr la homogeneización del imperio.

Los libros de los Macabeos narran la atmósfera de insurrección que vive el pueblo, atmósfera que se continúa en la época de la ocupación romana, a partir del 63 a. de C., cuando Pompeyo se apodera de Jerusalén. Se suceden los movimientos mesiánicos, cuyos actores principales son los zelotes, que culminarán con los alzamientos del 66 y de 131 d. de C. cuando Pompeyo se apodera de Jerusalén. Se suceden los movimientos mesiánicos, cuyos actores principales son los zelotes, que culminarán con los alzamientos del 66 y de 131 d. de c. y la total destrucción y dispersión del pueblo judío.

La insurrección nos coloca en un clima apocalíptico y esto tiene extraordinaria importancia. Más adelante desarrollaremos ampliamente las características del movimiento apocalíptico, pero es necesario desde ahora tener presente que, si en toda la práctica de Jesús dicho movimiento tiene mucha importancia, encontrándose íntimamente relacionado con el profético, en las escenas estamos comentando adquiere una relevancia de primer orden, tanto que, luego de las discusiones con las autoridades del pueblo judío, Jesús desarrollará ampliamente su concepción apocalíptica de la realidad.

Jesús lidera esta insurrección montando un asno. Esto adquiere una significancia particular. No significa que Jesús esté contra la violencia. Un movimiento apocalíptico que esté en contra del uso de la violencia es un contrasentido. El uso del asno y no del corcel alude directamente al ideal de la confederación, cuando los campesinos israelitas luchaban en asnos, y el jefe circunstancial también iba montado en un asno, en contra de los ejércitos monárquicos que iban en corceles, como vimos.

Es este mismo ideal que había sido evocado por el profeta Zacarías: "Salta llena de gozo, oh hijo de Sion. Lanza gritos de alegría, hija de Jerusalén. Pues viene tu rey hacia ti; él es santo y victorioso, humilde y va montado sobre un burro, sobre el hijo pequeño de una burra. Destruirá los carros de Efraim y los caballos de Jerusalén. Desaparecerá el arco con flechas y dictará la paz a las naciones. Extenderá su dominio desde el mediterráneo hasta el mar rojo y desde el Éufrates hasta el fin del mundo" (Zac. 9, 9-10).

Aparece claramente la contraposición entre el asno del rey y los carros y caballos de los enemigos. El asno, símbolo de los campesinos, los pobres; y los carros y caballos, símbolo de los ejércitos monárquicos. Los pobres, liderados por su rey, vencerán a los ejércitos de las monarquías, y "desaparecerá el arco con flechas", se inaugurará la paz del reino mesiánico.

La confederación campesina es comunista. Es el comunismo el que se pone en marcha con la insurrección. En efecto, un poco más adelante, en el capítulo decimocuarto, Marcos relatará la cena, el reparto del pan entre los pobres.

Hemos visto que los preparativos de la insurrección fueron clandestinos. Pero no es éste el único signo de clandestinidad que nos presentan los textos que estamos analizando. Después de entrar en Jerusalén y en el templo, "salió con los Doce para Betania" (Mc. 11, 11). Ya hemos visto que Betania es uno de los lugares donde Jesús se esconde. Finalmente, después de echar a los mercaderes del templo, "al anochecer salió de la ciudad" (Mc. 11, 19).

De día Jesús no tiene miedo, se mueve con libertad, porque tiene el apoyo del pueblo enfervorizado que, acompañándolo, ha experimentado el triunfo sobre sus odiados enemigos y opresores, al apoderarse del templo y arrojar de allí a los mercaderes, el negocio de los sacerdotes. Marcos relate que los sacerdotes jefes y los escribas "le tenían mucho miedo, ya que su enseñanza producía un gran impacto entre la gente" (Mc. 11, 18).

El problema era de noche, cuando la gente se retiraba a descansar. En esos momentos Jesús toma precauciones, sale de la ciudad que se ha tornado insegura y recurre a algunos escondites que tiene preparados. La clandestinidad es el lugar fértil donde germinan los apocalipsis. Es el contexto en el que es necesario leer el apocalipsis del capítulo decimotercero, junto al contexto clandestino de la comunidad romana a quien va destinado.

La insurrección que Jesús lidera tiene todos los rasgos de una insurrección zelote, apareciendo Jesús como un líder zelote. En efecto, la multitud gritaba "¡Hosanna en las alturas!" (Mc. 12, 20). "¡Hosanna!" significa "¡Sálvanos!". ¿De quién? Si luego se habla de la instauración del reino davídico, evidentemente el pueblo clama a Jesús que lo salve de sus opresores, los romanos, y todos sus aliados internos.

El sentido es completamente claro. Pero aparece todavía con más claridad si efectivamente la traducción correcta no es "¡Sálvanos en las alturas o en los cielos!" sino "¡Sálvanos de los romanos!". Otro grito de la multitud era: "¡Bendito (eugeménos) el que vine en nombre del Señor (Kyrios)" y "¡Bendito (eugeméne) el reino que viene de nuestro padre David!" (vv. 10-11). Ya conocemos el significado de la bendición. En este caso sobresale particularmente su significado político. La bendición es el augurio de victoria sobre el enemigo, el romano y sus aliados.

Jesús viene en nombre del único Kyrios, el único Señor, y viene para instaurar el reino davídico. No podemos menos de notar aquí una contradicción entre el asno que monta Jesús y el único Kyrios en cuyo nombre entra en Jerusalén y toma el templo, por una parte, y la alusión al comienzo o restauración del reino davídico, por la otra. El asno apunta a la confederación en la cual no existía el Estado, es decir, la monarquía davídica, que se estableció en contra de los ideales libertarios e igualitarios representados por la antigua confederación. ¿Cómo se explica esta contradicción?

Su explicación no nos parece complicada si tenemos en cuenta que se trata fundamentalmente de un hecho político protagonizado por los zelotes. Evidentemente, la masa popular que sigue a Jesús está formada por elementos pobres, cuya expresión política más connotada era la de los zelotes. Por otra parte, los eslóganes que se agitaron: ¡Hosanna! ¡Bendito el Reino davídico que viene!, eran zelotes. Junto a estos estaba el grupo de Jesús. Este tiene un proyecto con características propias, distinto en varios aspectos del proyecto zelote.

El proyecto de Jesús está simbolizado por el asno, el de los zelotes, por la aclamación del reino davídico. Ahora bien, en todo movimiento político en el que confluyen fuerzas que tienen una gran franja de intereses comunes frente a un enemigo común, es natural que se expresen los matices distintos de los proyectos de las distintas fuerzas. En este sentido debe destacarse cómo Jesús no se mantiene en una actitud purista intransigente a nivel ideológico. Lo importante por el momento es enfrentar al poder opresor movilizando a todos los sectores populares. Además, como veremos, Jesús irá perfilando su estrategia a medida que el proceso avance.

La maldición de la higuera que no da frutos se produce en dos tiempos significativamente entrelazados con la toma del templo y la expulsión de los mercaderes. En efecto, Jesús la maldice -según el relato de Marcos- luego de la toma del templo al frente del pueblo, y el efecto de la maldición a los mercaderes. La expulsión de los mercaderes es la condenación de la religiosidad del templo con todo lo que ello significa - economía de acumulación, política de poder de las clases dominantes, religiosidad cultural, de la pureza-. Así como la higuera se secó después de la maldición, también acontecerá con el templo.

No caben dudas de que la higuera significa el templo. El texto subraya que "no era tiempo (kairos) de higos" (Mc. 11, 13), significando con ello que la maldición no está dirigida directamente a la higuera, sino a lo que ella representa, el templo. El que no da frutos es el templo. Los frutos que debiera dar son los de liberación del pueblo, realización de la comunidad de hermanos donde se reparta el pan, donde los hombres puedan amar los unos a los otros. En cambio de ello, sirve para legitimar la opresión y es su mismo centro, el lugar donde se guarda el tesoro que sale de las manos de los campesinos, el lugar donde los sacerdotes hacen sus negocios aprovechando el sentimiento religioso del pueblo.

Desde ese momento el templo ha sido condenado a la destrucción. Los sacerdotes jefes y los escribas lo supieron muy bien, por lo cual "buscaban como lo matarían" (Mc. 11, 18). El texto esta inmediatamente después de la expulsión de los mercaderes, e inmediatamente antes de la constatación del efecto de la maldición sobre la higuera.

Discusiones Ideológicas - políticas

En este contexto insurreccional, en presencia del pueblo enfervorizado por el triunfo sobre sus enemigos tradicionales se produce una acalorada discusión ideológica - política entre Jesús y representantes de los sectores dominantes. El evangelio de Marcos las distribuye a lo largo del capítulo decimoprimero, inmediatamente después de la expulsión de los mercaderes, y del capítulo decimosegundo. Las seguiremos en el orden en que las dispone el Evangelio.

Pero es menester, para interpretarlas correctamente, tener presente el contexto en el que se realizan y los objetivos que persiguen:

1. El contexto es el de un pueblo insurreccionado que se ha apoderado de la ciudad y del templo. La victoria que ha obtenido evidentemente no es decisiva, y los hechos lo probaran fehacientemente, pero en los momentos en que se produce la discusión se sienten vencedores, en situación de imponer condiciones. Las condiciones estarán teñidas por la exaltación que se vive en esos momentos.

2. El objetivo que persiguen tanto Jesús como sus enemigos es ganarse al pueblo, obtener su aprobación y la descalificación del adversario. Esto reviste importancia. Será necesario interpretar en cada intervención de Jesús el momento estrictamente político, dirigido a descalificar al adversario frente al pueblo, y el momento del mensaje, es decir, lo que Jesús quiere transmitir como fondo, como significado ultimo de su intervención.

En las intervenciones de Jesús siempre están presentes ambos momentos. Si se los tiene en cuenta, no se caerá en el error de dogmatizar lisa y llanamente sobre ellas. El pueblo, a su vez, interviene aprobando, desaprobando, aceptando, rechazando. Se vuelve a producir la actuación de los tres actores que hemos visto en el capítulo IV de la segunda parte.

Primera Escena: Legitimidad de la práctica de Jesús

Lo primero que entra en discusión es la legitimidad de la práctica de Jesús: "Se le acercaron los sacerdotes Jefes, los escribas y los ancianos" (Mc. 11, 27). Son los representantes de la totalidad de las clases dominantes, pues a todas ha dañado Jesús con su práctica.

La respuesta de Jesús contiene los dos momentos indicados, el político y el del mensaje, poniendo en primer lugar el político, pues se trataba de destruir el ataque que acababa de sufrir. En la pregunta - trampa que le hacen se supone que la legitimidad de la práctica de Jesús podía provenir de dos fuentes: o de la autorización recibida por parte de quienes podían autorizar en nombre de Dios, es decir, de parte de los componentes del Sanedrín -sacerdotes jefes, escribas y ancianos - o de una demostración de poder que hiciese Jesús para mostrar que actuaba en nombre de Dios.

"Son los representantes de la totalidad de las clases dominantes, pues a todas ha dañado Jesús con su práctica"

Evidentemente a Jesús no lo podía haber autorizado el Sanedrín, pues su actuación dañaba sus intereses; ni podía recibir autorización mediante la demostración de un poder que pertenecía a la lógica de la dominación, como ya lo hemos examinado a propósito de las tentaciones y de la "señal del cielo" que le pedían los fariseos.

El trasfondo, o sea el mensaje, que contiene la respuesta de Jesús es que su práctica está legitimada por Dios y eso aparece con claridad en cuanto el Bautista lo anunció como envidado por Dios; pero como Dios está presente en el pueblo pobre, se lo otorgó mediante el poder que le dio el pueblo.

Sin embargo, Jesús trasmite el mensaje políticamente, reduciendo al silencio a sus enemigos: "Jesús les contestó: Les voy a preguntar una sola cosa. Si me contestan les diré con qué autoridad (eksousía) lo hago: ¿El bautismo de Juan era del cielo o de los hombres?" Ellos comentaban entre sí: si decimos "del cielo", dirá: "¿Por qué, pues, no creen en él?" Pero, ¿Vamos a decir "de los hombres"? Tenían miedo de la gente. Todos en efecto pensaban que Juan era verdaderamente un profeta. Por eso respondieron a Jesús: "No Sabemos", y Jesús les contesto: "Tampoco yo les digo con qué autoridad hago estas cosas" (Mc. 11, 29-33).

Subrayamos que los enemigos de Jesús "tenían miedo a la gente", al pueblo presente. Jesús, políticamente, les planteó una cuestión que ellos no podían resolver satisfactoriamente para sus intereses, por miedo al pueblo presente, Jesús, aquí, no es ni el "alma bella" ni "el profeta del amor acósmico", ni el "rey de otro mundo", sino el hombre que emplea la astucia para no caer en la trampa de sus adversarios y para hacer caer a éstos en la suya.

Segunda Escena: Los viñadores asesinos (Mc. 12, 1-12)

Avanzando en la discusión, Jesús comparó a las autoridades de Israel con unos viñadores a los que el dueño les alquilo su viña. Ellos intentaron adueñarse de ésta y mataron a cuantos el verdadero dueño envió para cobrar la parte de los frutos que le correspondía. Finalmente, el dueño manda a su propio hijo, quien corre la misma suerte.

El relato - parábola - termina: "Díganme, ¿Qué hará entonces el señor (kyrios) de la viña? Vendrá, dará muerte a esos trabajadores y entregará la viña a otros. ¿No has leído el pasaje de la Escritura que dice: la piedra que los constructores desecharon llegó a ser la piedra principal del edificio -(literalmente: cabeza del ángulo)? De parte del Señor se hizo esto y es cosa maravillosa a nuestros ojos" (Mc. 12, 9 -12).

Las alusiones eran de una claridad meridiana. El viñador es Dios. La viña es el pueblo de Dios, como ya lo hemos visto al comentar el pasaje de Isaías (Is. 1 - 7; 27, 1 - 13), que ha sido confiado a las autoridades. Éstas, en lugar de considerarse simples delegadas para cuidar, cultivar, limpiar y regar la viña, se consideraron dueñas y la explotaron. En consecuencia, Dios castigará a los culpables y pasará la viña a otros. La bendición, con todo lo que ella significa, pasará a otras manos.

La alusión fue comprendida sin lugar a dudas. "Pretendieron apoderarse de él, pero tuvieron miedo de la gente: comprendieron, en efecto, que la parábola se refería a ellos. Y dejándolo se fueron" (Mc. 12, 12). Jesús gana la discusión. El pueblo amotinado está con él. Sus enemigos temen al pueblo.

Todavía debemos remarcar dos elementos de esta escena: por una parte, que los otros a los que aquí se refiere Jesús son sin duda los paganos. El evangelista tiene en cuenta la comunidad de Roma a la que se dirige. Por otra parte, la figura de la viña para expresar al pueblo prepara el terreno para interpretar la célebre escena del "tributo al César".

Tercera escena: El tributo al César (Mc. 12, 13-L7)

Viene luego la célebre y tergiversada escena del impuesto al César. La reproduciremos tal cual la relata Marcos, porque toca un aspecto importante del mensaje de Jesús. Además, es la escena que clásicamente se cita para probar la separación de lo político con relación a lo religioso. Es menester no mezclar los asuntos que se refieren a Dios con los que se relacionan con la política. De esta manera, por ejemplo, se pretende condenar a los cristianos, y sobre todo a los sacerdotes, que toman un compromiso activo junto a las clases populares.

El relato dice así: "Enviaron donde Jesús a algunos fariseos junto con partidarios de Herodes. Esa gente venía con una pregunta que era una verdadera trampa. Y dijeron a Jesús: ¨Maestro, sabemos que eres sincero y no te preocupas de quien te oye, ni te dejas influenciar por él, sino que enseñas con franqueza el camino de Dios. Dinos, ¿Está permitido pagar el impuesto al César o no?¨ Pero Jesús, desenmascarándolos, les dijo: ¿Por qué me ponen trampas? Tráiganme una moneda para verla. Le mostraron un denario y Jesús les preguntó: ¿De quién es esta cara y lo que está escrito? Ellos le respondieron: Del César. Entonces Jesús les dijo: Lo que es del César, devuélvanselo al César y lo que es de Dios, a Dios. (Mc. 12, 13-17).

Para interpretar correctamente la escena es menester primero conocer la posición de los distintos sectores sociales frente al problema del impuesto, que era objeto de amplios debates en esa época en Palestina. En un extremo se ubicaban los zelotes, quienes en su estrategia de enfrentamiento al Imperio Romano incluían la negativa a pagar el impuesto. En el extremo contrario, los colaboracionistas en general - como herodianos, saduceos, sacerdotes- quienes propagaban que era necesario pagarlo. En el medio los fariseos, teóricamente pensaban que no había que pagarlo, pero en la práctica lo pagaban. Típico comportamiento de los sectores medios. Siempre incluimos a los fariseos entre las clases dominantes porque en la práctica su política dependía de la de aquellas.

Si nos fijamos bien en la respuesta que da Jesús a la pregunta tramposa que le dirigen los fariseos y herodianos, veremos que se centra en la imagen, en la cara del César. Siendo del César debe ser devuelta a él, es decir, debe ser arrojada fuera. En otras palabras, no hay que pagar el tributo. Rechazo abierto del impuesto y, en consecuencia, también de la ocupación.

Por otra parte, "lo que es de Dios, a Dios" ¿Qué es de Dios? La viña, el pueblo oprimido. Es necesario tener una práctica de acuerdo con la tradición profética, la del reparto del pan, la del óbolo de la viuda... y entonces el pueblo será de Dios. Jesús habla aquí del Dios de su práctica, el Dios de los vivos, del que tratará directamente en la próxima discusión. El Dios de la práctica de Jesús está diametralmente opuesto al César, el elemento central del poder económico opresor.

La pretendida separación entre Dios y política, entre lo religioso y lo político, no tiene ningún asidero en esta discutida frase de Jesús. De ninguna manera podría Jesús predicar una separación entre lo sagrado y lo profano, entre lo religioso y lo político, pues se inscribe plenamente en el ámbito de la tradición que, como sabemos, es monista.

Además, el contexto en el que se da la discusión coloca a Jesús en una posición totalmente contraria al dualismo de la interpretación tradicional. En efecto, Jesús viene de liderar insurrección política, de haber tomado el templo y arrojado violentamente a los mercaderes. Son hechos de denso contenido político. Poco después compartirá en una casa anónima, profana. Por otra parte, léase detenidamente no sólo el evangelio de Marcos, sino todos los demás evangelios, se verá a Jesús asumiendo un compromiso pleno, totalmente ajeno al contexto dualista de la religión.

* Ruben Dri participó en la fundación del Movimiento de Sacerdotes para el Tercer Mundo. En los años 60 comenzó a militar en el Peronismo de Base.

La Haine
22/04/2025

Texto completo en: https://www.lahaine.org/mundo.php/lecturas-de-semana-santa-insurreccion

Francisco I dejó intactos los abusos sexuales, el machismo y los privilegios de la iglesia



PERIODISMO ALTERNATIVO

A pesar de sus gestos para la tribuna, Francisco I no transformó la estructura de una iglesia que sigue siendo jerárquica, patriarcal y resistente al cambio, dejando grandes deudas

Desde su elección en 2013, el papa Francisco I ha proyectado una imagen de cercanía y humildad, rompiendo con el estilo distante de sus predecesores. Proveniente de Argentina, Jorge Mario Bergoglio se presentó como un pontífice dispuesto a modernizar la iglesia Católica y abordar sus problemas estructurales. Sin embargo, tras más de una década de papado, el balance de su gestión revela un contraste entre sus gestos y declaraciones progresistas y la falta de voluntad de implementar reformas profundas en una institución que, históricamente, ha jugado un papel reaccionario.

Francisco I no ha logrado enfrentar los grandes desafíos que atraviesa la iglesia: los escándalos de abusos sexuales y pederastia, el machismo arraigado en su estructura y los privilegios de una jerarquía eclesiástica desconectada de las realidades del mundo contemporáneo.

Francisco I ha realizado declaraciones que, en el contexto de una institución milenaria y conservadora, pueden considerarse relativamente progresistas. Entre las más destacadas están el énfasis en la justicia social, abogando por una ‘iglesia pobre para los pobres’ y criticando la desigualdad social y el consumismo desenfrenado. En relación a la sexualidad, a pesar de que no modificó la doctrina oficial, Francisco I mostró una postura más tolerante con el colectivo homosexual. En 2013, su famosa frase ‘¿Quién soy yo para juzgar?’ sobre las personas homosexuales marcó un cambio de tono. En 2023, permitió la bendición de parejas del mismo sexo bajo ciertas condiciones, un gesto que, aunque muy limitado, generó controversia en los sectores más conservadores.

El papa denunció tímidamente el ‘capitalismo salvaje’ y la idolatría del dinero, criticando la ‘economía de la exclusión’ y llamando a una iglesia más comprometida con los marginados. También llevó a cabo reformas litúrgicas y sinodales, impulsando una iglesia más participativa y menos centralizada, y permitiendo que las mujeres y laicos desempeñen roles más visibles, aunque sólo en las ceremonias.

Estas acciones y palabras habían generado esperanza entre quienes anhelan una iglesia más alineada con los valores de justicia e inclusión. Sin embargo, las iniciativas se han quedado en la superficie, sin abordar los problemas estructurales que perpetúan la crisis de la institución.

Escándalos de abusos sexuales y pederastia

Los casos de abuso sexual por parte de clérigos han sido una de las mayores manchas de la iglesia moderna. Aunque Francisco I ha pedido perdón públicamente y creado comisiones para investigar, las medidas han sido totalmente insuficientes.

La falta de transparencia, la lentitud en los procesos y la protección de figuras de alto rango han alimentado la percepción de que la iglesia prioriza su reputación sobre las víctimas. Casos como el del cardenal Theodore McCarrick o las acusaciones en Chile revelan una institución incapaz de erradicar esta lacra, si es que la considera lacra.

Machismo y exclusión de las mujeres

La iglesia sigue siendo una de las instituciones más patriarcales del mundo. Francisco I ha hablado de la importancia de las mujeres, pero no ha avanzado más que sus antecesores hacia su inclusión en roles de poder.

La ordenación de mujeres como sacerdotes o diaconisas sigue siendo un tema tabú, y la estructura eclesiástica permanece dominada por hombres célibes. Sus comentarios, como comparar a las mujeres con ‘fresas en un pastel’ en 2019, han sido criticados por perpetuar estereotipos.

Privilegios de la jerarquía eclesiástica

El Vaticano sigue siendo un símbolo de riqueza y poder. A pesar de los tímidos llamados de Francisco I a la austeridad, la jerarquía eclesiástica goza de privilegios que contrastan con su mensaje.

Escándalos financieros, como el desvío de fondos del Óbolo de San Pedro, han empañado su gestión. La opacidad en las finanzas vaticanas y la resistencia del papa a reformar el Banco del Vaticano (cosa que sí intentó hacer Juan Pablo I, y le costó la vida) reflejan la la falta de voluntad para desmantelar un sistema arraigado en siglos de acumulación de poder.

No pudo o no quiso implementar cambios estructurales, dejando muchas de sus propuestas en el terreno de lo simbólico.

La iglesia: un historial reaccionario

A lo largo de la historia, la iglesia Católica ha jugado un papel predominantemente reaccionario, oponiéndose a avances científicos y sociales. Desde la condena de Galileo en el siglo XVII hasta su resistencia a la modernidad en el siglo XIX, la institución ha priorizado su autoridad sobre el progreso humano.

La Teología de la Liberación, surgida en América Latina en los años 60, fue una excepción notable, al abogar por la justicia social, el acercamiento al socialismo y la lucha contra la opresión. Sin embargo, esta corriente fue reprimida por el Vaticano bajo Juan Pablo II, evidenciando la resistencia de la iglesia a cualquier cambio que desafíe su estructura de poder y su conservadurismo.

En la actualidad, la iglesia bajo Francisco I siguió este rumbo reaccionario, aunque con un ‘rostro más amable’. Mientras el papa hablaba de inclusión y justicia, mantenía posturas retrógradas en temas como el aborto, la anticoncepción y la igualdad de género. La iglesia, bajo Francisco I, siguió anclada en dogmas.

El papa Bergoglio será recordado como un líder con buenas intenciones, con gestos para la tribuna, capaz de generar titulares con sus llamados a la justicia. Sin embargo, su pontificado no ha querido transformar una iglesia que arrastra siglos de problemas estructurales.

Los escándalos de abusos, el machismo institucional y los privilegios de la jerarquía siguen intactos. La historia de la iglesia, salvo excepciones como la Teología de la Liberación, es la de una institución que lucha contra el cambio, y el papado de Francisco I no ha sido la excepción.

----
 23/04/2025

Texto completo en: https://www.lahaine.org/mundo.php/francisco-i-dejo-intactos-los

Umberto Eco - Como preparar-se serenamente a morte. Breves instruções para eventual discípulo.


* Umberto Eco

Eu não tenho certeza se direi uma coisa original, mas um dos maiores problemas do ser humano é como encarar a morte. Parece que o problema é complicado para os incrédulos (Como afrontar o Nada que nos espera?) Mas as estatísticas dizem que a questão também diz respeito a muitos crentes que acreditam firmemente que há vida após a morte, e ainda, eles acham que a vida antes a própria morte é tão agradável senti-la como desagradável deixá-la; pelo que eles anseiam, sim, chegar ao coro de anjos, mas o mais tarde possível. 

Parece claro que eu estou levantando a questão de o que significa ser-para-morte, embora se deva reconhecer que todos os homens são mortais. Vê-se fácil porque concerne a Sócrates, mas torna-se difícil quando concerne a nós, e será ainda mais difícil quando nos damos conta de que estamos em um instante e um momento depois não seremos mais.

Recentemente, um discípulo pensativo (como criton) me perguntou: "Mestre, como podemos nos aproximar bem da morte?". Eu respondi que a única maneira de se preparar para a morte é estar convencido de que todos os outros são idiotas.

Ante o espanto de Criton eu esclareci, "Olha", eu disse, como pode aproximar-se da morte, mesmo se você é um crente, se acha que, quando morreres, jovens homens e mulheres altamente desejáveis ​​dançam em uma boate se divertindo um grande momento, cientistas ilustres penetram os mistérios finais do cosmos, os políticos incorruptíveis estão criando uma sociedade melhor, jornais e estações de televisão são dedicados a dar notícias importantes, os empresários responsáveis ​​temem que os seus produtos não degradem o meio ambiente e são dedicados a restaurar a natureza dos riachos potáveis, encostas arborizadas, céu claro e calmo protegida pelo ozônio, nuvens suaves que destilam chuvas docíssimas? O pensamento de que, enquanto todas essas coisas maravilhosas acontecem, você se vai, resultaria insuportável.

"Agora tente pensar que no momento que você percebe que está deixando este vale, você tem a certeza inabalável de que o mundo (seis bilhões de seres humanos) é cheio de idiotas, eles são idiotas que estão dançando na discoteca, idiotas cientistas acreditam ter resolvido os mistérios do cosmos, idiotas políticos que propõem a panaceia para todos os nossos males, idiotas que enchem páginas e páginas de fofocas sem importância, idiotas os produtores suicidas que destroem o planeta. Você não se sentiria feliz naquele momento, aliviado, satisfeito em deixar este vale de idiotas?".

Críton perguntou-me então. "Mestre, quando eu terei que começar a pensar assim"? eu disse para não fazer isso muito cedo, porque a vinte ou mesmo 30 anos pensar que todos são idiotas é ser um idiota e nunca irá alcançar a sabedoria. Tens que começar pensando que todos os outros são melhores do que nós, e então evoluir lentamente, tendo as primeiras débeis dúvidas aos quarenta, começar a revisão entre os cinquenta e sessenta, e chegar a segurança, enquanto você avança para a centena, mas preparado para estar na mão quando chegar o telegrama de notificação.

Convencer-se de que todos os outros em torno de nós (seis bilhões) são idiotas é o resultado de uma arte sutil e inteligente, não é uma aptidão natural do primeiro Cebes com um brinco em sua orelha (ou nariz). Exige estudo e esforço. Não há necessidade de acelerar etapas. Tem que chegar lá suavemente, bem a tempo de morrer em paz. No dia anterior se deve pensar que há uma pessoa a quem amamos e admiramos, o que não é exatamente idiota. A sabedoria consiste em reconhecer no momento certo (não antes) que essa pessoa também era idiota. Só então você pode morrer.

Assim, a grande arte consiste em estudar pouco-a-pouco o pensamento universal; selecionar os costumes; controlar dia-a-dia os meios de comunicação de massa, as afirmações dos artistas seguros de si mesmos, as máximas dos políticos descontrolados, as falácias dos críticos apocalípticos, os aforismos de heróis carismáticos, estudar as teorias, as propostas, as apelações, as imagens, as aparências. Só então, finalmente, você vai chegar a revelação perturbadora de que todos são idiotas. Neste momento você está pronto para o encontro com a morte.

Você vai ter que perseverar até o fim a esta revelação insustentável, te obstinarás em pensar que alguém diz coisas sensatas, que esse livro é melhor do que outros, que este líder realmente quer o bem comum. É natural, é humano, é característica da nossa espécie rejeitar a crença de que os outros são todos idiotas sem distinção; se não, por que valeria a pena viver? Mas quando, finalmente, você sabe, compreenderás por que vale a pena (e por isso é excelente) morrer.

Críton me disse então: "Mestre, não queria tomar decisões precipitadas, mas abrigo a suspeita de que sou um idiota." "Vês, lhes disse, você está no caminho certo."  

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Nota 1: A coluna foi publicada no L'Espresso na Itália em 1997 e foi reproduzida quase inteiramente no capítulo final de seu livro de ensaios Passos de caranguejo. 

Nota 2: o filósofo italiano se referiu à história que narrará em seguida, como um "texto aparentemente de brincadeira, mas (...) que considerava  muito a sério". O seu objetivo era convencer-nos de uma frase sábia de Eclesiastes: Vanitas vanitatum et omnia vanitas  [Vaidade das vaidades, tudo é vaidade]

https://blogacritica.blogspot.com/2016/02/umberto-eco-como-preparar-se.html

Helder Moura - Sobre viagens e férias



* Helder Moura
 

“O mundo é um livro e aqueles que não viajam leem apenas uma só página”, Santo Agostinho.


“Só depois de conhecido a superfície das coisas nos podemos aventurar a procurar o que está por baixo. Mas, a superfície das coisas é inesgotável”, Ítalo Calvino.


“Sábio como és agora, senhor de tanta experiência, terás compreendido o sentido de Ítaca”, Constantin Cavafy.


Segundo nos conta J. K. Huysmans, em 1884 o duque de Esseintes vivia só num grande palacete nos arredores de Paris, passando os seus dias a ler os clássicos, colecionando pensamentos sobre a humanidade. Das poucas vezes que saíra para ir a uma aldeia vizinha, depressa começara a sentir um sentimento de repulsa, que o levara a não mais querer afastar-se de casa. “Para evitara fealdade e a estupidez”. Até que, talvez por influência do que lera de Dickens, um dia acordou com o enorme desejo de conhecer Londres.

Mandou os criados fazerem-lhe as malas, vestiu-se à inglesa, fato de tweed, chapéu de coco e capa de inverno, e eis que parte para Paris no primeiro comboio. Dispondo de tempo até apanhar o transporte que o levaria para Londres, foi a uma livraria comprar o Guia de Londres de Baedeker, o que lhe permitiu sonhar com os passeios que procurava vir a fazer. À hora do almoço, entrou numa taberna inglesa da rua de Amsterdão, perto da Gare Saint Lazare. Local tipicamente inglês, escuro e cheio de fumo, um grande balcão e filas de torneiras de cerveja de barril, pequenas mesas de bancos corridos onde se sentavam “robustas inglesas de traços masculinos, com os seus dentes grandes como espátulas, as suas faces afogueadas como maçãs, e as mãos e os pés enormes”. Comeu sopa de rabo de boi, rosbife com batatas, dois pintos de cerveja e queijo de Stilton.

Quando por fim chegou a hora do transporte para Londres, Des Esseintes sentiu-se subitamente muito cansado só de antever que teria ainda de se pôr a caminho da estação, disputar um bagageiro, subir para o comboio, dormir numa cama estranha, apanhar frio, pôr-se em bichas só para visitar afinal os lugares que o Baedeker tão minuciosamente descrevia.

“Para que se há-de mover quem pode fazer viagens maravilhosas sentado na sua cadeira? Não estaria ele já em Londres, cujos cheiros, clima, população, pratos de cozinha sem que faltassem sequer os talheres, o rodeavam? Que mais poderia esperar para além de tudo isso, a não ser novas deceções?” Des Esseintes pagou a conta, saiu da taberna, e com os seus baús, os seus sacos, os seus fatos emalados, guarda-chuvas e bengalas, apanhou o primeiro comboio de regresso, e nunca mais saiu de casa.


Bem sei que Desseintes pertence aquela categoria para a qual a realidade não pode deixar de ser dececionante. Charles Tomlinson acrescentava que “os melhores dias são aqueles em que não se tem de ir a nenhum lado”

.
O que nos leva a pôr a questão: porque viajamos? Para Jack Kerouac, porque “a estrada é a vida”; para Bill Bryson, “para experimentar as coisas pela primeira vez”; para Mark Twain, porque é um antídoto contra “o preconceito e a intolerância”; para Santo Agostinho, porque “o mundo é um livro e aqueles que não viajam leem apenas uma só página”.


Como é Verão, está muito calor e é tempo de férias (“féria” era o dia em que, devido a uma prescrição religiosa, se não trabalhava, daí a primeira feira, segunda feira, até à sétima feira, em que a primeira feira foi substituída pelo dia do Senhor –Dominicus dies -, o Domingo, e a sétima pelo Sábado, dia em que os primeiros judeus cristãos se reuniam para orar, o que faz da tradição portuguesa única no mundo por ainda a conservar; talvez seja interessante lembrar que se por férias entendermos o tempo em que se não está ocupado, tal já há muito se vinha verificando, por exemplo, sempre que aparecia o Inverno obrigando as pessoas a recolherem-se em casa sem nada para cultivar nos campos; lembrar também que as primeiras verdadeiras férias em todo o mundo só apareceram em 1936 quando o governo Francês da Frente Popular decretou duas semanas de férias pagas a todos os trabalhadores – três semanas em 1956, quatro em 1969 e cinco em 1981), não vou falar sobre o significado das viagens, dos descobrimentos, dessa primeira tentativa de “unificação da Terra através do dinheiro em todos os seus avatares, como mercadoria, como texto, como conta, como número, como imagem, como notoriedade”, dessa primeira globalização realizada pelas descobertas marítimas cristo-capitalistas e implantada politicamente pelo colonialismo dos Estados-nação da Europa.


Nem tão pouco vou falar da real relacionação entre viagens e férias. Ficarei apenas pela superficialidade da viagem e das férias como aventura, tendo em atenção o que Ítalo Calvino nos dizia: "Só depois de conhecido a superfície das coisas nos podemos aventurar a procurar o que por baixo. Mas, a superfície das coisas é inesgotável”.


Assim, deixo-vos aqui Ítaca, um poema do grego CAVAFY, Constantin, 1986, Constantin Cavafy, 90 e mais quatro poemas, versão portuguesa, prefácio, comentários e notas de Jorge de Sena, 2ª Edição, Centelha, Coimbra, que espero vos acompanhe em todas as vossas viagens e férias.


Quando partires de regresso a Ítaca,
deves orar por uma viagem longa,
plena de aventuras e de experiências.
Ciclopes, Lestrogónios, e mais monstros,
um Poseidon irado – não os temas,
jamais encontrarás tais coisas no caminho,
se o teu pensar for puro, e se um sentir sublime
teu corpo toca e o espírito te habita.
Ciclopes, Lestrogónios, e outros monstros,
Poseidon em fúria – nunca encontrarás,
se não é na tua alma que os transportes,
ou ela os não erguer perante ti.
Deves orar por uma viagem longa.
Que sejam muitas as manhãs de Verão,
quando, com que prazer, com que deleite,
entrares em portos jamais antes vistos!
Em colónias fenícias deverás deter-te
Para comprar mercadorias raras:
coral e madrepérola, âmbar e marfim,
e perfumes subtis de toda a espécie:
compra desses perfumes quanto possas.
E vai ver as cidades do Egipto,
Para aprenderes com os que sabem muito.
Terás sempre Ítaca no teu espírito,
Que lá chegar é o teu destino último.
Mas não te apresses nunca na viagem.
É melhor que ela dure muitos anos,
que sejas velho já ao ancorar na ilha,
rico do que foi teu pelo caminho,
e sem esperar que Ítaca te dê riquezas.
Ítaca deu-te essa viagem esplêndida.
Sem Ítaca, não terias partido.
Mas Ítaca não tem mais nada para dar-te.
Por pobre que a descubras, Ítaca não te traiu.
Sábio como és agora, senhor de tanta experiência,
Terás compreendido o sentido de Ítaca.

04.08.2015

https://otempoemquevivemosotempoemquevivemos.blogs.sapo.pt/sobre-viagens-e-ferias-3893

segunda-feira, 21 de abril de 2025

MENSAGEM URBI ET ORBI DO PAPA FRANCISCO - PÁSCOA 2025

 
MENSAGEM URBI ET ORBI DO PAPA FRANCISCO  - PÁSCOA 2025

Praça São Pedro - Domingo, 20 de abril de 202

 


Cristo ressuscitou, aleluia!

Irmãos e irmãs, Feliz Páscoa!

Hoje ressoa finalmente na Igreja o Aleluia, que corre de boca em boca, de coração a coração, e o seu cântico faz chorar de alegria, no mundo inteiro, o povo de Deus.

Do sepulcro vazio de Jerusalém chega até nós um anúncio sem precedentes: Jesus, o Crucificado, «não está aqui; ressuscitou!» (Lc 24, 6). Não está no túmulo, está vivo!

O amor venceu o ódio. A luz venceu as trevas. A verdade venceu a mentira. O perdão venceu a vingança. O mal não desapareceu da nossa história e permanecerá até ao fim, mas já não lhe pertence o domínio, não tem qualquer poder sobre quem acolhe a graça deste dia.

Irmãs e irmãos, especialmente vós que passais pela dor e pela angústia, o vosso grito silencioso foi ouvido, as vossas lágrimas foram recolhidas e nem sequer uma só se perdeu! Na paixão e morte de Jesus, Deus tomou sobre si todo o mal do mundo e, com a sua infinita misericórdia, derrotou-o: erradicou o orgulho diabólico que envenena o coração humano e semeia violência e corrupção por toda a parte. O Cordeiro de Deus venceu! Por isso, hoje exclamamos: «Ressuscitou Cristo, minha esperança» (Sequência Pascal).

Sim, a ressurreição de Jesus é o fundamento da esperança: a partir deste acontecimento, ter esperança já não é uma ilusão. Não! Graças a Cristo crucificado e ressuscitado, a esperança não engana! Spes non confundit! (cf. Rm 5, 5). E não se trata duma esperança evasiva, mas comprometida; não é alienante, mas responsabilizadora.

Quem espera em Deus coloca as suas mãos frágeis na mão grande e forte d’Ele, deixa-se levantar e põe-se a caminho: juntamente com Jesus ressuscitado, torna-se peregrino de esperança, testemunha da vitória do Amor e do poder desarmado da Vida.

Cristo ressuscitou! Neste anúncio encerra-se todo o sentido da nossa existência, que não foi feita para a morte, mas para a vida. A Páscoa é a festa da vida! Deus criou-nos para a vida e quer que a humanidade ressurja! Aos seus olhos, todas as vidas são preciosas! Tanto a da criança no ventre da mãe, como a do idoso ou a do doente, considerados como pessoas a descartar num número cada vez maior de países.

Quanto desejo de morte vemos todos os dias em tantos conflitos que ocorrem em diferentes partes do mundo! Quanta violência vemos com frequência também nas famílias, dirigida contra as mulheres ou as crianças! Quanto desprezo se sente por vezes em relação aos mais fracos, marginalizados e migrantes!

Neste dia, gostaria que voltássemos a ter esperança e confiança nos outros, mesmo naqueles que não nos são próximos ou que vêm de terras distantes com usos, modos de vida, ideias e costumes diferentes dos que nos são familiares, porque somos todos filhos de Deus!

Gostaria que voltássemos a ter esperança de que a paz é possível! A partir do Santo Sepulcro, Igreja da Ressurreição, onde este ano a Páscoa é celebrada no mesmo dia por católicos e ortodoxos, se irradie sobre toda a Terra Santa e sobre o mundo inteiro a luz da paz. Sinto-me próximo dos cristãos que sofrem na Palestina e em Israel, bem como do povo israelita e palestiniano. É preocupante o crescente clima de antissemitismo que se está a espalhar por todo o mundo. E, ao mesmo tempo, o meu pensamento dirige-se ao povo, em particular, à comunidade cristã de Gaza, onde o terrível conflito continua a gerar morte e destruição e a provocar uma situação humanitária dramática e ignóbil. Apelo às partes beligerantes que cheguem a um cessar-fogo, que se libertem os reféns e se preste assistência à população faminta, desejosa de um futuro de paz!

Rezemos pelas comunidades cristãs do Líbano e da Síria – este último país a atravessar uma fase delicada da sua história –, que anseiam por estabilidade e participação no futuro das respetivas nações. Exorto toda a Igreja a acompanhar com atenção e oração os cristãos do amado Médio Oriente.

Dirijo também um pensamento especial ao povo do Iémen, que está a viver uma das piores crises humanitárias “prolongadas” do mundo devido à guerra, e convido todos a encontrar soluções através de um diálogo construtivo.

Que Cristo ressuscitado derrame o dom pascal da paz sobre a martirizada Ucrânia e encoraje as partes envolvidas a prosseguirem os seus esforços para alcançar uma paz justa e duradoura.

Neste dia de festa, recordemos o Sul do Cáucaso e rezemos pela rápida assinatura e aplicação de um definitivo Acordo de paz entre a Arménia e o Azerbaijão, que leve à tão desejada reconciliação na região.

Que a luz da Páscoa inspire propósitos de concórdia nos Balcãs Ocidentais e apoie os responsáveis políticos a trabalhar para evitar uma escalada de tensões e crises, bem como inspire os parceiros da região a rejeitar comportamentos perigosos e desestabilizadores.

Que Cristo ressuscitado, nossa esperança, conceda paz e conforto aos povos africanos vítimas de violência e conflitos, especialmente na República Democrática do Congo, no Sudão e no Sudão do Sul, e apoie todos quantos sofrem devido às tensões no Sahel, no Corno de África e na Região dos Grandes Lagos, tal como os cristãos que em muitos lugares não podem professar livremente a fé.

Não é possível haver paz onde não há liberdade religiosa ou onde não há liberdade de pensamento nem de expressão, nem respeito pela opinião dos outros.

Não é possível haver paz sem um verdadeiro desarmamento! A necessidade que cada povo sente de garantir a sua própria defesa não pode transformar-se numa corrida generalizada ao armamento. A luz da Páscoa incita-nos a derrubar as barreiras que criam divisões e que acarretam consequências políticas e económicas. Incita-nos a cuidar uns dos outros, a aumentar a solidariedade mútua, a trabalhar em prol do desenvolvimento integral de cada pessoa humana.

Neste momento, não falte a nossa ajuda ao povo do Myanmar que, atormentado por anos de conflito armado, enfrenta com coragem e paciência as consequências do devastador sismo em Sagaing, causador da morte de milhares de pessoas e de sofrimento para muitos sobreviventes, incluindo órfãos e idosos. Rezemos pelas vítimas e pelos seus entes queridos e agradeçamos de todo o coração a generosidade dos voluntários que levam a cabo as operações de socorro. O anúncio do cessar-fogo por parte de vários intervenientes no país é um sinal de esperança para todo o Myanmar.

Apelo a todos os que, no mundo, têm responsabilidades políticas para que não cedam à lógica do medo que fecha, mas usem os recursos disponíveis para ajudar os necessitados, combater a fome e promover iniciativas que favoreçam o desenvolvimento. Estas são as “armas” da paz: aquelas que constroem o futuro, em vez de espalhar morte!

Que o princípio da humanidade nunca deixe de ser o eixo do nosso agir quotidiano. Perante a crueldade dos conflitos que atingem civis indefesos, atacam escolas e hospitais e agentes humanitários, não podemos esquecer que não são atingidos alvos, mas pessoas com alma e dignidade.

E, neste ano jubilar, que a Páscoa seja também uma ocasião propícia para libertar os prisioneiros de guerra e os presos políticos!

Queridos irmãos e irmãs

Na Páscoa do Senhor, a morte e a vida enfrentaram-se num admirável combate, mas agora o Senhor vive para sempre (cf. Sequência Pascal) e infunde em cada um de nós a certeza de que somos igualmente chamados a participar na vida que não tem fim, na qual já não se ouvirá o fragor das armas nem os ecos da morte. Entreguemo-nos a Ele, o único que pode renovar todas as coisas (cf. Ap 21, 5)!

Feliz Páscoa para todos!


Copyright © Dicastero per la Comunicazione - Libreria Editrice Vaticana

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/urbi/documents/20250420-urbi-et-orbi-pasqua.html

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Carlos Gonçalves - «Sondagens» para «martelar» eleições

* Carlos Gonçalves

As son­da­gens elei­to­rais podem no má­ximo prever ten­dên­cias, num mo­mento es­pe­cí­fico e no in­ter­valo da margem de erro; se a in­qui­rição for fiável, com mé­todo ale­a­tório e es­tra­ti­fi­cação ge­o­grá­fica, so­cial, etária, de gé­nero e voto an­te­rior, de di­mensão ade­quada, abs­tenção e dis­tri­buição de in­de­cisos con­forme à re­a­li­dade e tra­ta­mento me­diá­tico ri­go­roso(!).

Como estas «re­gras» estão «mar­te­ladas», não sur­pre­ende que o Ex­presso «ex­plique» agora a di­fi­cul­dade de amos­tras re­pre­sen­ta­tivas e son­da­gens claras e limpas; com isto pro­cura bran­quear-se, mas não in­forma que a SIC-Ex­presso in­siste num mo­delo con­ver­gente com a ma­ni­pu­lação elei­toral e o des­cré­dito da de­mo­cracia.

Hoje é muito im­pro­vável que uma son­dagem elei­toral seja ri­go­rosa e me­di­a­ti­zada com isenção. As em­presas da área – Pi­ta­gó­rica, Axi­mage, Eu­ro­son­dagem, In­ter­campus, etc., com ne­gó­cios de cerca de 100 mi­lhões de euros em 2024 – são de­pen­dentes dos bancos e mul­ti­na­ci­o­nais, que também co­mandam o poder po­lí­tico, os «es­tudos de mer­cado» e ne­gó­cios com os grupos eco­nó­mico-me­diá­ticos (três uni­ver­si­dades tentam a isenção no mer­cado, mas é di­fícil).

Está claro que a Eu­ro­son­dagem tra­balha para o PS e a Pi­ta­gó­rica para o PSD, as ou­tras em­presas é mais con­forme a «en­co­menda».

É evi­dente que as son­da­gens in­flu­en­ciam de forma de­ter­mi­nante o voto de muitos ci­da­dãos e são factor de sub­versão da de­mo­cracia. Em tempos, até San­tana Lopes es­creveu que «as son­da­gens são uma per­versão do sis­tema po­lí­tico». Um res­pon­sável da Pi­ta­gó­rica re­co­nheceu que os nú­meros da CDU «podem in­di­ciar uma li­geira dis­torção da amostra» – é óbvio e in­trín­seco ao ne­gócio.

Quem de­ter­mina as «son­da­gens» e a sua me­di­a­ti­zação são os grandes in­te­resses, o ob­jec­tivo é a mis­ti­fi­cação, agora é: «CDU a descer», «ou­tros a re­cu­perar e subir», «PS e PSD em em­pate téc­nico», «bi­po­la­ri­zação à vista», «PSD ul­tra­passa PS», «PS passa PSD», «PR vai exigir acordo para um go­verno do que ficar à frente».

Vale tudo nas «son­da­gens», nas mis­ti­fi­ca­ções e na sua me­di­a­ti­zação, «mar­te­lada» cen­tenas de vezes para de­so­ri­entar os tra­ba­lha­dores, o povo e a sua luta, para vencer por exaustão e levar a que votem contra os seus in­te­resses, para per­pe­tuar a po­lí­tica de di­reita e travar o avanço do PCP e da CDU.

É ur­gente es­cla­recer e lutar.

https://www.avante.pt/pt/2680/opiniao/179214/%C2%ABSondagens%C2%BB-para-%C2%ABmartelar%C2%BB-elei%C3%A7%C3%B5es.htm

Margarida Botelho - Crianças, adolescentes e ecrãs



* Margarida Botelho

 (Membro do Secretariado e da Comissão Política)

A ex­po­sição ex­ces­siva de cri­anças e jo­vens a ecrãs lú­dicos tem graves con­sequên­cias

A pro­pó­sito da série «Ado­les­cência» e da vi­o­lação de uma jovem pu­bli­cada nas redes so­ciais, voltou a falar-se muito da re­lação das cri­anças, dos ado­les­centes e dos jo­vens com os ecrãs lú­dicos.

O abuso de ecrãs não é um fe­nó­meno novo. As horas pas­sadas a ver te­le­visão ou a jogar em con­solas pre­o­cu­param pais e edu­ca­dores nas úl­timas dé­cadas. Mas o fe­nó­meno ace­lerou com a ge­ne­ra­li­zação dos smartphones, que co­me­çaram a ser ven­didos em Por­tugal em 2009, das redes so­ciais e dos jogos on­line.

Têm vindo a ser di­vul­gados es­tudos que de­mons­tram que a ex­po­sição ex­ces­siva de cri­anças e jo­vens a ecrãs lú­dicos tem graves con­sequên­cias para a sua saúde (obe­si­dade, pro­blemas de visão, mús­culo-es­que­lé­ticos, car­di­o­vas­cu­lares, an­si­e­dade, de­pressão e per­tur­ba­ções no sono), no com­por­ta­mento (agres­si­vi­dade, pro­blemas de so­ci­a­li­zação e adição), no plano cog­ni­tivo (pro­blemas na lin­guagem, na con­cen­tração e na me­mo­ri­zação), bem como no apro­vei­ta­mento es­colar. As con­sequên­cias au­mentam na razão di­recta do nú­mero de horas a que as cri­anças e jo­vens estão ex­postos, bem como da idade em que o fazem. O ca­rácter vi­ci­ante dos ecrãs afecta o de­sen­vol­vi­mento dos cé­re­bros ainda em cres­ci­mento, com con­sequên­cias mais pro­fundas do que as ge­radas no cé­rebro adulto.

Mais de me­tade dos alunos a partir do se­gundo ciclo passa, pelo menos, quatro horas em frente a um ecrã nos dias de se­mana, re­levou um es­tudo do Mi­nis­tério da Edu­cação. Facto que con­trasta com as re­co­men­da­ções da So­ci­e­dade Por­tu­guesa de Neu­ro­pe­di­a­tria: evicção de ecrãs até aos 3 anos; 30 mi­nutos por dia dos 4 aos 6 anos; uma hora por dia dos 7 aos 11, duas horas dos 12 aos 15 anos e um má­ximo de três horas por dia até aos 18 anos.

Os ecrãs estão pre­sentes cada vez mais cedo na vida das cri­anças, em quase todos os es­paços que fre­quentam e na forma como os adultos os usam. O re­curso a ecrãs lú­dicos para manter cri­anças muito pe­quenas en­tre­tidas é fa­cil­mente vi­sível em res­tau­rantes, nos trans­portes, ou mesmo nas cre­ches e no pré-es­colar, nas horas que an­te­cedem as ac­ti­vi­dades lec­tivas ou en­quanto es­peram que as fa­mí­lias os vão buscar. Nas cri­anças mais ve­lhas, so­bre­tudo a partir do 5.º ano, é fre­quente o seu uso também nos re­creios es­co­lares.

Um pro­blema de toda a so­ci­e­dade
Se as con­sequên­cias fí­sicas, psi­co­ló­gicas e re­la­ci­o­nais deste uso ex­ces­sivo estão es­tu­dadas, a di­mensão do que se perde pa­rado a olhar para um ecrã é mais di­fícil de medir. As brin­ca­deiras que não se ti­veram, os amigos que não se co­nhe­ceram, as pa­la­vras que não se apren­deram, as aven­turas que não se vi­veram, o abraço que não se deu, o con­flito que não se re­solveu, as horas de sono que se per­deram, o sen­tido crí­tico que não se de­sen­volveu, têm con­sequên­cias na cons­trução da per­so­na­li­dade de cada um.

O con­teúdo do que se vê no ecrã também me­rece pre­o­cu­pação. Os pe­didos de ajuda ao ICAD por de­pen­dência de jogos e de In­ternet de jo­vens entre os 12 e os 24 anos cres­ceram 172% em quatro anos. A ex­po­sição de cri­anças e jo­vens a con­teúdos vi­o­lentos e por­no­grá­ficos, bem como a si­tu­a­ções de abuso se­xual, têm le­vado as forças po­li­ciais a emitir avisos às fa­mí­lias e às es­colas. Um es­tudo da Ordem dos Psi­có­logos sobre de­sin­for­mação pu­bli­cado na se­mana pas­sada es­tima que me­tade dos jo­vens de 15 anos não con­siga dis­tin­guir um facto de uma opi­nião que leia na In­ternet. Os im­pactos das redes so­ciais na saúde mental e na auto-imagem cor­poral, so­bre­tudo das ra­pa­rigas, têm sido su­ces­si­va­mente de­nun­ci­ados.

A so­ci­e­dade deve en­frentar os pro­blemas que o uso ex­ces­sivo de ecrãs lú­dicos está a gerar. São ne­ces­sá­rias me­didas para pro­teger as cri­anças e os jo­vens. É pre­ciso que as cri­anças te­nham tempo livre, re­creios ape­la­tivos na es­cola, au­to­nomia e se­gu­rança para viver o es­paço pú­blico. É pre­ciso de­fender o di­reito das cri­anças e dos jo­vens a brincar, a con­viver, à ac­ti­vi­dade fí­sica, a crescer em li­ber­dade, com in­te­resses di­ver­si­fi­cados e con­fi­ança no fu­turo.

Mas o abuso de ecrãs lú­dicos não é um ex­clu­sivo das cri­anças e dos jo­vens. Não é pos­sível mo­di­ficar as suas ati­tudes sem uma al­te­ração dos com­por­ta­mentos da so­ci­e­dade em geral e sem en­frentar os in­te­resses das mul­ti­na­ci­o­nais do di­gital. Culpar as novas ge­ra­ções, es­tig­ma­tizar os ado­les­centes, enchê-los de proi­bi­ções, não é acei­tável e só re­sul­tará em mais so­fri­mento.

 https://www.avante.pt/pt/2680/opiniao/179189/Crian%C3%A7as-adolescentes-e-ecr%C3%A3s.htm