* Miguel Esteves Cardoso
Ler em pilhas é a melhor maneira de ler. As pilhas não podem ter mais de 8 livros cada uma, para não dificultar muito a extracção. Isto sabendo que apetece sempre mais ler o livro que está por baixo.
16 de Outubro de 2024
Não consigo entrar num estúdio de rádio sem pensar em livros. Aquela mesa oval,
enorme, vazia, limpíssima, com um buraco no meio, dá-me vontade de ler.
Imagino-me no buraco, em cima de uma
cadeira com rodas, a circular por dentro da mesa, cheia de pilhas e mais pilhas
de livros novinhos em folha, todos a competir pela minha atenção
É assim que está a minha sala de estar neste momento, com pilhas de livros por
toda a parte, mas sempre à mão dos sofás onde me sento.
Ainda não foram arrumados – o que, em língua livreira, significa esquecidos,
sepultados, comprimidos uns contra os outros para nunca mais poderem dançar.
Ler em pilhas é a melhor maneira de ler. As pilhas não podem ter mais de oito
livros cada uma, para não dificultar muito a extracção. Isto sabendo que
apetece sempre mais ler o livro que está por baixo deles todos.
Mas é espantosa a quantidade de pilhas que se pode ter à volta de um sofá –
sobretudo com a cumplicidade de umas mesinhas e de uns jornais velhos dobrados,
para não serem contaminadas pelo chão.
Na leitura – se é que quer mesmo
competir com a Internet – o que conta é o acesso. Isso de uma pessoa
levantar-se estraga tudo. Quem consulta paga multa. E então quando não se
encontra o raio do livro e é preciso percorrer as prateleiras com o mandado de
busca nas mãos vazias.
O ser humano lida bem com o número
oito. É só uma meia dúzia mais dois: o ideal para uma pilha temática. O segredo
é saber fazer as pilhas, segundo os autores, ou as urgências, ou os
apetecimentos mais frequentes.
Depois, há a disposição das pilhas: a
pilha mais perto de si tem de ser um pódio – e todos os dias tem de ser
reavaliada, para ver quem merece lá ficar.
Em cada pilha, o livro de cima é o único que tem o direito de mostrar a capa.
Tem de ser muito bem escolhido, porque é esse – a preguiça é tramada – em que
mais vezes irá pegar.
Claro que as pilhas são temporárias.
São umas férias de Verão, antes de ir para o Inverno das estantes.
Colunista
Sem comentários:
Enviar um comentário